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A variante Bolsonaro

Michele Caputo

O coronavírus por si só já se mostrou extremamente mortal, ceifando mais de 2,5 milhões de vidas em todo o mundo. Mas, apesar de todo esse potencial catastrófico do vírus, o Brasil teve ainda de lidar com outro fator complicador nesta pandemia: a variante Bolsonaro.

Desde os primeiros casos de Covid-19 no país, o presidente fez questão de menosprezar os perigos da doença. Apostou em medidas terapêuticas controversas, sem embasamento científico, e tornou o Brasil terra fértil para a evolução do vírus. Tudo isso graças a uma política negacionista e desumana adotada por ele e seus seguidores.

Imunidade de rebanho só será possível com vacinação em massa e não com exposição ao vírus. Esse modo equivocado de enfrentar a pandemia já custou 264 mil vidas brasileiras

A variante Bolsonaro é hoje a mais temida do planeta. Novamente o Brasil está no centro das atenções da comunidade internacional. Não mais pela degradação da Amazônia ou pelas queimadas no Pantanal. O foco agora é o risco de o país se tornar berço de novas cepas ainda mais transmissíveis e letais.

O crescimento da disseminação da P1, variante amazônica que se espalha pelo país, tem sido acompanhada de perto pela Organização Mundial da Saúde. Um estudo da Fiocruz, divulgado na última semana, traz dados alarmantes sobre a circulação desta cepa no Paraná. Das 216 amostras de pacientes paranaenses com grande carga viral analisadas pelo laboratório, 70,4% detectaram a mutação P1.

Autoridades locais associam esse dado ao recente recrudescimento da pandemia no estado e ao colapso no sistema de saúde. Na última semana, a ocupação de leitos de UTI Covid-19 bateu a marca de 97% e 811 pacientes aguardavam na fila de espera por internação. Uma situação dramática que pode se acentuar nas próximas semanas.

A lentidão na campanha de vacinação, ocasionada pela falta de doses, também explica o cenário caótico que se vê em todo o país. Bolsonaro, que já negou a doença, fez o mesmo com as vacinas. Desdenhou de laboratórios, mandou cancelar compras por birra, questionou a ciência e lançou bravatas insinuando desconfiança em relação às vacinas.

Mais de 8 milhões de vacinados no Brasil e ninguém virou jacaré, presidente. Precisamos de mais vacinas, independentemente do laboratório, do local de produção ou da tecnologia utilizada. Com aval da Anvisa, pode ser qualquer uma, presidente. Imunidade de rebanho só será possível com vacinação em massa e não com exposição ao vírus. Esse modo equivocado de enfrentar a pandemia já custou 264 mil vidas brasileiras. Medidas restritivas, uso de máscaras e distanciamento social são essenciais para reduzir a circulação viral.

Não basta apenas abrir leitos e deixar que as pessoas se infectem livremente. É fundamental que União, estados e prefeituras atuem para barrar a transmissão. Isso é muito diferente das ações que por muito tempo foram implantadas para mitigar os efeitos da pandemia.

Chegamos a um momento decisivo. Somos o segundo país com mais mortes por Covid-19 no mundo. Pária internacional em relação às vacinas e potencialmente um berço de novas cepas. Ou mudamos a política de enfrentamento à pandemia agora ou a tragédia será ainda maior.

Michele Caputo é deputado estadual e coordenador da Frente Parlamentar do Coronavírus na Assembleia Legislativa do Paraná.