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A terceira morte de Dilma

A terceira morte de Dilma

Ricardo Noblat

Dilma morreu três vezes.

A primeira depois de proceder durante um ano como “a faxineira ética”. Foi no começo do seu primeiro governo.

No total, Dilma abateu seis ministros de Estado – pelo menos cinco deles enlameados por suspeitas de corrupção.

Que não contassem com ela para contemporizar com desvios de conduta. Dilma, o gatilho mais rápido do cerrado, não discutia, atirava para matar.

A “faxineira ética” acabou sepultada depois que alguns dos ministros varridos por ela voltaram a ser influentes dentro do governo.

Dilma morreu pela segunda vez depois de reeleita. Só então ficou claro para a maioria apertada responsável por sua vitória que o país fora empurrado para o buraco que hoje se encontra.

Então a “gestora exemplar”, superior a Lula segundo Lula, não passara de uma invenção dele e do marketing do PT?

Ela mentiu ao jurar que o país ia bem, obrigado? E reelegeu-se vendendo algo que deixara de existir?

Amaldiçoada seja, portanto! Pela crise que o governo maquiou o quando pôde. Mas acima de tudo, pelas mentiras.

A terceira morte de Dilma ocorreu, anteontem, depois de ela ter expirado nos braços de Lula.

Deixou de existir a presidente da República ciosa dos seus poderes. A dona do pedaço. A chefona impiedosa.

O corpo dela, ainda quente, está sendo velado no Palácio da Alvorada.

Ao suceder Lula, Dilma planejara livrar-se da sombra malévola do PMDB. Deu vários passos nesse sentido. Um deles, ao convocar para seu lado o ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.

Kassab montara um partido, o PSD, para acolher políticos do PMDB e de outros partidos dispostos a apoiar Dilma.

E com esse mesmo objetivo, ocupava-se com a montagem de outro – o Partido Liberal. O PSD decolou, mas não tanto. O PL, nem isso.

Em fevereiro último, Dilma apostou na derrota de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) a presidente da Câmara dos Deputados. Perdeu feio.

À crise econômica somou-se a crise política. A Operação Lava Jato tocou barata voa dentro do PT e em suas imediações.

Diante do risco do impeachment, Dilma rendeu-se à pressão de Lula e do PMDB, entregando-se a eles sem condições.

Havia anunciado uma reforma ministerial para extinguir e fundir ministérios, economizando algum.

No curto prazo, a reforma poderá servir à única coisa que, a essa altura, interessa a Dilma: barrar qualquer tentativa de impeachment contra ela.

Porque, no mais, para melhorar o governo, não servirá.

Para reunir ministros competentes, também não.

Para resgatar parte da popularidade perdida por Dilma, nem pensar.

O segundo governo Dilma terminou sem ter sequer começado. Resta um projeto de poder, não mais do que isso, ao qual se agarram o PMDB, Lula e seus aloprados.

A turma de Lula não é todo o PT. Há um pedaço dele acamado, febril, que procura para aonde ir com a ajuda de uma lupa.