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A autocrítica

A autocrítica

Antonio Delfim Netto

Tenho o maior respeito pela integridade pessoal da presidente Dilma Rousseff, mas a narrativa de que está sofrendo um “golpe” é pura alucinação de cidadãos desesperados com a possibilidade de perderem o poder. Na mais plena observância da Constituição de 1988 e sob o controle de um Supremo Tribunal Federal para o qual nada menos do que oito (entre 11) dos seus ilustres membros foram escolhidos livremente por Lula ou por ela e transparentemente aprovados pelo Senado Federal, está em andamento um processo de impeachment autorizado por dois terços dos representantes diretamente eleitos para a Câmara Federal. O julgamento dar-se-á no Senado Federal e também exigirá o quorum de dois terços.

Como consequência natural do processo, Dilma foi preventivamente afastada da Presidência da República e substituída, interinamente, pelo vice-presidente, Michel Temer, enquanto o Senado apura se houve desvio de função durante a manifestamente desastrosa administração do país no período de 2012 a 2016.

O fato concreto é que Dilma Rousseff continua no Palácio da Alvorada, acompanhada de duas dezenas de assessores de sua livre escolha, com a capacidade de ir e vir livremente, somada às facilidades de transporte do primeiro mandatário da nação, com seu retrato pendurado em todos os ministérios e com livre acesso à imprensa nacional e internacional, tudo por conta do Tesouro Nacional, como deve ser. Se for inocentada no Senado, voltará a ser entronizada na Presidência, como manda a lei.

Se isso for “golpe”, minha querida avó era um “bonde elétrico”. Como em teoria das probabilidades sou um “frequentista”, sei que um evento de probabilidade zero não é impossível, mas tal resultado, provavelmente, seria a volta do desgoverno…

Uma recente autocrítica do PT revelou a pobreza da atual liderança do que foi, nos anos 80 do século passado, um partido essencial para a sociedade brasileira.

Admirado não apenas pelos seus correligionários, mas, principalmente, pelo que compreendem o papel da esquerda inteligente e do sufrágio universal na “civilização” do “capitalismo”. Do que se lamenta o PT, afinal? Da sua incapacidade. Primeiro, a de não ter “aparelhado” o Supremo Tribunal Federal e, segundo, de ter se esquecido de “aparelhar” as forças armadas com o controle das promoções dos oficiais. Eita partidinho democrático!

Com minha simpatia pessoal pelos dois, acredito que esse é um sinal que Lula e Dilma nunca aceitaram o que era “natural” para o partido: o “aparelhamento” para a sua eternização no poder. Ponto para eles.