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7 a 1 para pandemia

“A vida é como um jogo de futebol, cada lance pode definir sua trajetória” –  Mikael Johnathan

Luiz Claudio Romanelli

Brasileiro gosta de futebol. Aliás, o futebol movimenta milhões nos estádios pelo mundo afora. Em época de pandemia, infelizmente, não ir aos gramados para torcer por seu time é uma realidade que o coronavírus nos impõe.

O brasileiro esperou décadas para assistir a uma Copa do Mundo no Brasil. Em 2014, foi a nossa vez. O que seria orgulho para todos, virou vergonha pior que o macaranaço em 1950. Em 8 de julho, a seleção canarinho sofreu a sua maior derrota em uma Copa: 7 X 1 contra a Alemanha.

Muitas jogadas e esquema de jogo errados, e um registro na história que vai marcar gerações. Mas, o que isso tem a ver com a pandemia? Para ser sincero, nada! Mas vale uma analogia com o que vivemos em 2014 e o que estamos vivendo agora.

No gramado, as pessoas podem até sair tristes pela derrota. Mas, infelizmente, em tempos de  pandemia do coronavírus, não será só a tristeza pelas jogadas erradas que ficam na lembrança dos brasileiros.

Faço essa comparação porque, lamentavelmente, o presidente Jair Bolsonaro tem insistido nos mesmos equívocos ou erros, escolhas, decisões e falta de seriedade no combate à pandemia.

Na semana que passou ficou nítido que a depender do atual presidente pouco importa se as pessoas ficarão desprotegidas e ao alcance mais fácil da “gripezinha”. Além de não ajudar na luta contra o vírus, ainda pode provocar uma derrota muito maior para milhares de brasileiros. Ao vetar 17 artigos da lei que determina a obrigatoriedade do uso de máscara de proteção em todo o País, Bolsonaro fez um verdadeiro gol contra, aumentando as chances de derrota na guerra para combater o avanço do coronavírus.

Governadores e prefeitos têm feito um esforço enorme para vencer a pandemia, mas o governo federal adota medidas distintas, sem nenhum critério científico e sem ouvir as autoridades sanitárias, baseado apenas em “achismos” ou alegando “perseguição política para derrubar o governo”.

É difícil acreditar que, enquanto líderes políticos de todo o mundo adotam as medidas de saneamento propostas pela OMS (Organização Mundial da Saúde), o Brasil com mais de 64 mil óbitos em decorrência do vírus, simplesmente segue na contramão.

Estamos vivendo uma crise sem precedentes. Algumas medidas duras, mas diante de triste de recorde, com o total em 212.326 casos da doença em 24 horas, entendemos a expressa necessidade delas.

Algumas medidas são fáceis de adotar, refiro-me ao uso da máscara de proteção facial. Estudos comprovam a eficácia para quem usa. Uma lei importante que tornaria a proteção facial um artigo de uso obrigatório em todo território nacional foi quase que totalmente vetada pelo presidente. A proposta da lei busca garantir o mínimo de segurança às pessoas ao frequentar espaços públicos e em atividades essenciais, durante o período em que durar a pandemia.

Felizmente, temos a lei estadual vigente, a lei 20.189/2020 que exige o uso da máscara em espaços e ambientes coletivos, sob pena de multa. E mais que isso! Temos uma população consciente da importância do uso do artefato como proteção para evitar o contágio ou contaminar outras pessoas.

Considerar que a frequência à igrejas, templos e estabelecimentos comerciais sem o uso da máscara de proteção não vai facilitar a transmissão do coronavírus é uma estultice sem tamanho.

Para exemplificar tamanha insensatez é só lembrar que no dia 22 de março, o presidente fez uma live e disse que no Brasil o coronavírus teria o mesmo número de mortos do vírus H1N1, ou seja 800 mortos. Já passamos de 64 mil, 125 vezes o previsto por sua excelência, e só estamos no início de julho.

Não somos contrários a abertura do comércio. Somos contrários a que pessoas utilizem esses espaços sem a devida proteção – e uma delas é máscara facial. O presidente não só vetou esse artigo, como também desconsiderou a necessidade de que empresas públicas ou privadas, estabelecimentos comerciais, templos e igrejas disponibilizem o álcool em gel 70% para seus clientes ou frequentadores.

Apenas a suspensão desses dois itens, por si só, já seria suficiente para provocar o aumento vertiginoso do contágio como, por sinal, tem acontecido nos últimos dias. Sobretudo no interior, onde o índice de aumento já é muito maior que nas capitais.

Espero que o Congresso Nacional reveja os vetos do presidente e promulgue a lei conforme aprovada no Senado e na Câmara dos Deputados.

Luiz Claudio Romanelli, advogado e especialista em gestão urbana, é deputado estadual e vice-presidente do PSB do Paraná