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66 milhões mobilizados para a inércia

Ontem, em mais uma eliminação do Big Brother Brasil, mais de 66 milhões de pessoas em todo o país, se mobilizaram para eleger um dos emparedados da ocasição a retirar-se do programa de maior audiência momentânea da Rede Globo de Televisão.

Vejamos: Mais de sessenta e seis milhões de pessoas é o mesmo ou muito próximo do que a população total da Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile. Seria como se todos os habitantes desses países, em poucas horas, ligassem para participar do programa – vale destacar que o recorde do programa é de mais de 155 milhões de votos.

É muita gente para um programa que simplesmente evidencia a vida de pessoas comuns. Mas a crítica não é quanto ao programa ou a vontade das pessoas assistirem. Afinal, cada um escolhe o que quer e tem liberdade para isso.

A questão gira em torno da capacidade ou a falta de capacidade de mobilização da sociedade brasileira para questões, digamos, mais sérias e pontuais.

Se o povo brasileiro tivésse o mesmo entusiamo para a política nacional, os debates no Congresso Nacional ou ainda as discussões promovidas nas esferas da Justiça, supõe-se, que o Brasil estaria em outro nível e a própria população em melhores condições de vida, em todas as áreas.

Um exemplo notório é o projeto Ficha Limpa ou Lei Complementar nº. 135/2010. O Ficha Limpa é uma legislação brasileira originada de um projeto de lei de iniciativa popular que reuniu cerca de 1,3 milhões de assinaturas.

A lei torna inelegível por oito anos um candidato que tiver o mandato cassado, renunciar para evitar a cassação ou for condenado por decisão de órgão colegiado (com mais de um juiz), mesmo que ainda exista a possibilidade de recursos.

O projeto reuniu 1,3 milhões de assinaturas. O Big Brother mobilizou, em apenas uma noite, mais de 66 milhões de pessoas. Para efeito comparativo, apenas em hipótese, seria possível a elaboração de mais de 60 leis originárias da iniciativa população, com mais de um milhão de assinaturas cada uma, de diferentes pessoas, caso direcionássemos a votação do paredão do Big Brother, para a análise e elebaroração de leis, que, certamente, beneficiariam a vida e o dia-a-dia dos cidadãos, influenciando em áreas como saúde, educação, meio ambiente e economia.

Um programa como o Big Brother talvez desvie a verdadeira atenção da população para questões sérias do universo da política. Isso é um problema, mas há tempo para avaliarmos nossas prioridades.

Quem quiser assistir ao programa, siga a assiti-lo, pois o livre arbítrio deve sempre prevalecer. Todavia, façamos uma breve reflexão e uma análise de consciência quanto ao nosso verdadeiro papel na sociedade e se não estamos fugindo, de alguma forma, de responsabilidades. É só uma questão de direcionarmos melhor os esforços.