Cinco anos após a privatização da Copel Telecom, a empresa que nasceu desse processo deve mudar novamente de mãos. A Ligga Telecom entrou em fase decisiva de venda e, segundo apuração da coluna Pipeline do Valor Econômico, ao menos quatro grupos demonstraram interesse no ativo, entre eles Vivo, Brasil TecPar e Sky.
A Ligga foi formada a partir da compra da Copel Telecom pelo fundo Bordeaux Participações, veículo de investimentos ligado ao empresário Nelson Tanure, em uma operação avaliada à época em cerca de R$ 2,39 bilhões. Agora, a expectativa do mercado é que a empresa seja vendida por algo em torno de R$ 2 bilhões, valor próximo ao desembolsado na privatização, mas insuficiente para afastar as pressões financeiras que cercam o grupo controlador.
Venda da Ligga Telecom e o peso da dívida bilionária
A decisão de colocar a Ligga à venda está diretamente ligada à renegociação de uma dívida de aproximadamente R$ 1,2 bilhão, contraída junto a BTG Pactual, Farallon, Prisma Capital e Santander. O empréstimo, tomado pela própria Bordeaux para viabilizar a aquisição da Copel Telecom, venceria no início de dezembro e teve o prazo estendido por mais dois anos mediante garantias adicionais.
Como as garantias iniciais não cobriam integralmente o valor do crédito, Tanure precisou incluir ações da Alliança, empresa do setor de diagnósticos de saúde que também está em processo de venda. Os recursos obtidos com os desinvestimentos tanto na Ligga quanto na Alliança devem ser destinados prioritariamente ao pagamento de credores, evidenciando o caráter defensivo da operação.
No nível operacional, a situação também inspira cautela. No terceiro trimestre, a Ligga acumulava R$ 1,27 bilhão em dívidas e um caixa de R$ 407,8 milhões. Entre janeiro e setembro, a companhia registrou receita operacional líquida de R$ 471,2 milhões, mas ainda assim apresentou prejuízo de R$ 52,4 milhões no período. A agência Moody’s projeta uma alavancagem financeira entre 4,2 e 4,5 vezes, acima da média observada em outros grandes provedores regionais de internet.
Um ativo estratégico no Paraná
Apesar das dificuldades financeiras, a Ligga segue como um ativo estratégico. Trata-se do maior provedor de internet do Paraná, com uma rede de mais de 43 mil quilômetros de fibra óptica, atendendo clientes residenciais, varejistas e corporativos. Esse posicionamento explica o interesse de grandes grupos do setor de telecomunicações, que veem na empresa uma porta de entrada ou de consolidação em um mercado regional relevante.
Ainda assim, o avanço da venda escancara um momento delicado na trajetória empresarial de Nelson Tanure e o legado da privatização. Pressionado por dívidas bilionárias, histórico recente de inadimplência e pela necessidade concreta de desinvestir, o empresário dificilmente terá fôlego para manter o controle da companhia.
O ativo que simbolizou uma das maiores privatizações do Paraná deve agora encerrar um ciclo marcado por forte alavancagem, promessas de expansão e resultados financeiros aquém do esperado.










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