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O grave estrabismo da gestão Gustavo Fruet

O grave estrabismo da gestão Gustavo Fruet

Ao que parece as mudanças no comando da cidade estão rendendo resultados positivos. Segundo mensagem do prefeito Fruet, enviada dia 04 de setembro para a Câmara Municipal, a prefeitura tem dinheiro sobrando. Ou melhor, R$ 7.727.873,51 provenientes do excesso da arrecadação municipal nestes primeiros meses de governo.

Quem anota é o blogueiro Luiz Skora, do blog Polaco Doido ao indagar sobre o que o prefeito ainda fresco prefeito pretende fazer com toda esta grana que está sobrando. E ele dá a resposta: vai investir tudinho em obras de infraestrutura turística. (aqui e aqui)

– R$ 3.162.873,51 em obras para revitalização da Praça da Espanha;

– R$ 650.000,00 na construção de uma central de atendimento ao turista no Jardim Botânico;

– R$ 313.200,00 em reformas dos banheiros públicos existentes na cidade;

– R$ 1.037.760,00 em obras de acessibilidade no entorno de estações tubo próximos aos pontos turísticos: Praça Tiradentes, Rua 24 Horas, Teatro Paiol e praça do Japão;

– R$ 1.469.240,00 em obras de acessibilidade no terminal da Rodoferroviária e terminal Santa Cândida;

– R$ 1.094.800,00 na construção de banheiros públicos, sala de café e espaço para descanso no entorno da Praça Carlos Gomes, no centro da cidade.

Beleza, investir no turismo é muito importante. Além disso, a copa do mundo no Brasil é já no meio do ano que vem e Curitiba vai sediar quatro importantes jogos da primeira fase do torneio. Duas semanas em que a cidade receberá os torcedores de partidas decisivas em jogos como: Gana versus Costa Rica, Uruguai versus Grécia ou, quem sabe, Argentina versus Polônia, jogos importantíssimos, não é?

Mas, porém, contudo, todavia…

Eu aqui, Polaco e completamente alucinado, não entendo pisíricas de administração pública e, na minha completa ignorância, acredito que o principal foco das administrações municipais deveria ser a população, os moradores, os munícipes pagadores do IPTU ou não. Afinal, são eles quem patrocinaram, via impostos e outras taxas, estas sobras do excesso  na arrecadação.

Tudo bem que os moradores de rua sejam completamente invisíveis para a imensa maioria dos moradores locais, mas a prefeitura e os gestores municipais deveriam ter a obrigação de enxergá-los, de zelar pela segurança e a saúde destas pessoas que, pelos mais variados motivos, acabaram sem casa, sem família, sem um teto e vivem debaixo das marquises pelo centrão da cidade.

Os últimos levantamentos dão conta de que a cidade de Curitiba abriga por volta de 4.000 moradores de rua. Engana-se quem pensa que são 4.000 viciados em craque, 4.000 vagabundos, 4.000 marginaizinhos batedores de carteira. Não mesmo, como já escrevi, estas pessoas estão morando na rua pelos mais variados motivos. Experimente conversar com alguns deles e descubra você mesmo.

Enquanto 4.000 pessoas vivem na rua em situação degradante, os equipamentos municipais da FAS (Fundação de Ação Social) tem capacidade de atender apenas 1.000 pessoas e, em breve, o abrigo central na rua Conselheiro Laurindo vai fechar, eliminando as 350 vagas disponíveis naquele abrigo.

Sem contar ainda que o atendimento da FAS para os moradores de rua nem é aquelas coisas. O necessitado chega lá, ou por vontade própria ou encaminhado por agentes, toma seu banho, ganha uma muda de roupa, um sopão, dorme e na manhã seguinte é dispensado.

Se no dia seguinte o necessitado conseguir novamente a vaga, ótimo. Se não, vai juntar os trocadinhos recebidos das esmolas e vai dormir em algum hotelzinho. Se a grana não der pra isso, a única solução é arranjar uma garrafa de pinga e dormir debaixo das marquises da rua XV.

Não existe um programa municipal decente para reintegração dos moradores de rua no mercado de trabalho e na cidadania. A prefeitura trata os moradores de rua da mesma maneira que o cidadão médio, como um estorvo. Provê apenas o básico, cama, comida e um cobertor nos dias mais frios e isso, não por caridade e benevolência e sim, apenas para evitar as estatísticas de que enê moradores de rua morreram de frio no ano tal.

Pensa comigo:

Qual a relevância turística da Praça da Espanha para as pessoas que visitam a cidade de Curitiba? Quais os atrativos daquele lugar que o diferenciam do Largo da Ordem, do Centro, do passeio Público?

O local tem dois restaurantes, um café e uma feirinha mequetrefe!

O que justificaria um investimento de R$ 3,126 milhões naquela praça?

Algum comerciante do local com excelentes relações pessoais com alguns influentes caciques políticos da cidade é a única resposta minimamente coerente que me ocorre.

Igualzinho como aconteceu no episódio das chiques calçadas de Granito do Batel, no ano passado, apenas a algumas quadras daquela praça.

Posso estar enganado, mas com R$ 3 milhões daria para se construir um abrigo para os 3 mil moradores de rua desassistidos atualmente. Um espaço com refeitório, banheiros, dormitórios, uma lavanderia coletiva onde os moradores pudessem lavar suas próprias roupas e, principalmente, um local onde estas pessoas pudessem receber cursos de requalificação profissional e esperança. Sem esperança ninguém sai da rua ou abandona o crack. Eu mesmo seria voluntário para ministrar qualquer curso para estas pessoas e, como eu, garanto que muitos dos que lêem este espaço também fariam o mesmo.

Mas já estou até vendo. Quando chegar às vésperas da copa do mundo, os moradores de rua vão sumir dos espaços centrais da cidade, serão escondidos nas periferias e região metropolitana. Passados os quatros jogos que a cidade vai receber e os moradores de rua vão voltar, vão dormir sob as marquises e vão continuar sofrendo com o frio do inverno curitibano. Daqui a 12 meses tudo estará tal como hoje, os incômodos invisíveis continuarão incômodos invisíveis. E eu vou estar aqui escrevendo mais uma vez sobre o mesmo tema.

Moradores de rua são invisíveis, não garantem votos e nem contratos com empreiteiras.`Para políticos de carreira o que importa são votos e contratos com empreiteiras e só.

Por fim. Gustavo Fruet, como seus antecessores, não pensa em Curitiba como uma cidade para e pelos curitibanos. Gustavo Fruet, como seus antecessores, pensa Curitiba como uma cidade apenas para inglês ver. Uns ainda vão dizer que em Cuba este tipo de prática é institucionalizada…