Arquivos

Categorias

Em Quedas do Iguaçu, integrantes do MST ameaçam diretor da Municipal FM

Em Quedas do Iguaçu, integrantes do MST ameaçam diretor da Municipal FM

Como parte integrante da jornada de lutas do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), um megaprotesto foi realizado na manhã de ontem na cidade de Quedas do Iguaçu, Centro-Sul do Paraná. O movimento informou que sete mil pessoas participaram dos atos públicos que começaram nas primeiras horas do dia. Com caminhões, ônibus e carros eles passaram por dentro da área de trabalho da Araupel, empresa que emprega 1.200 trabalhadores e que no último ano sofreu duas invasões em suas terras. Na entrada da empresa eles deixaram uma grande faixa com a inscrição “a terra é nossa”.

Depois os integrantes se concentraram em frente à rádio Municipal FM, uma emissora educativa que pertence ao município. Os sem-terra acusam a emissora de tomar partido pela Araupel e se recusar a entrevistar lideranças do movimento. Durante os discursos, integrantes do MST pediram à direção da emissora e à Prefeitura a demissão do diretor de jornalismo, Carlos Lins. O movimento promete fechar a emissora, se for preciso, caso as críticas continuem sem que o departamento de jornalismo ouça os sem-terra. Como protesto, os manifestantes picharam o prédio da emissora com a inscrição “Municipal FM, capacho da Araupel”. Segundo o MST, a emissora entrevista com frequência os diretores da Araupel, mas se recusa a ouvir o movimento. As informações são da CGN.

Lins classificou a atitude como um ataque à imprensa e a pessoa dele como jornalista. Ele afirmou que vai registrar um boletim de ocorrência na Polícia Civil porque um patrimônio público foi vandalizado com pichações. “Eles não admitem em hipótese alguma que se noticie um fato que vai ao contrário do que eles pregam” afirma o diretor.

Os sem-terra chegaram à praça central da cidade em marcha pelas principais ruas. Muitos carregavam foices e facões, ferramentas símbolos do movimento. Durante os discursos, os sem-terra disseram que irão invadir mais uma área e fazer um novo acampamento nas terras da Araupel. Eles prometeram ocupar toda a área que pertence à empresa até o final do ano.

Ênio Pasqualin, da direção estadual do MST, afirmou que recentemente foi realizado um encontro regional na comunidade Arapongas onde o movimento assumiu como compromisso “o fim da Araupel e o assentamento de todas as famílias acampadas”. Ele disse que a decisão de passar em comboio por dentro da área onde fica a fábrica da Araupel foi um “recado” à empresa. “Se for preciso ficar nós ficamos, se for preciso voltar nós voltamos, mas essas terras, como diz a faixa são nossas”, afirmou apontando para uma inscrição em uma lona preta.

Para reivindicar as terras, o MST evoca uma decisão judicial que determinou que a área da Fazenda Rio das Cobras, onde está parte da Araupel, pertencem a União. A decisão judicial, no entanto, tornou-se sem efeito a partir do momento em que a empresa recorreu da sentença de primeira instância.

Um líder nacional do movimento, que preferiu identificar-se apenas como Miranda, afirmou que hoje a questão das terras da Araupel será discutida em uma reunião no Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) em Brasília. “E mesmo que elas [as terras] não fossem públicas, não é admissível nós estarmos na terceira melhor terra do mundo agronomicamente falando e ter produção de pinus e não de alimentos”, declarou.

Os sem-terra também fizeram duras críticas ao ministro da Fazenda Joaquim Levy e a ministra da Agricultura, Katia Abreu. Eles estão descontentes com a política econômica do governo federal que cortou pela metade os recursos de R$ 3,5 bilhões que estavam destinados para a reforma agrária. De acordo com Miranda, já há uma sinalização do governo para rever o corte.

Outro líder regional do movimento, que se identificou como Mendes, disse que em breve será montado outro acampamento nas terras da Araupel e que até o final do ano toda a área estará sob domínio dos sem-terra. “Esse ano a Araupel vai acabar”, esbravejou diante de gritos eufóricos dos manifestantes.

Procurada, a Araupel não se manifestou sobre as declarações dos integrantes do MST.