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Partidos em formação tentam resgatar discurso liberal na política brasileira

Três legendas em processo de legalização estão de olho em um espaço praticamente vago no debate político brasileiro: o da direita liberal. Com a derrocada do Democratas, o Partido Federalista, o Liber e o Novo tentam se inserir como defensores do Estado mínimo, da livre iniciativa e do direito à propriedade.

Eles se colocam como uma oposição verdadeiramente ideológica aos modelos de gestão adotados por PT e PSDB, siglas enraizadas na esquerda socialista e social-democrata.“Hoje é difícil denominar algo como sendo de direita ou esquerda. Diria que existem os partidos que defendem o estatismo, que são todos os que estão aí oficializados, e nós, que somos os não estatistas”, resume o presidente do Liber, Bernardo Santoro Machado. Advogado fluminense, ele diz que não tem qualquer identificação com as duas siglas em funcionamento que tem origem na direita – além do DEM, o Partido Progressista (PP).

Ambos são “descendentes” diretos da Aliança Re­­­novadora Nacional (Arena), que dominou o país durante a ditadura militar. Até 2007, o DEM se chamava Partido da Frente Liberal (PFL) e trocou de nome, em parte, para amenizar o rótulo direitista. Já o PP é parceiro dos petistas e comanda o Ministério das Cidades desde o primeiro mandato do governo Lula.

Republicanos

Inspirado no movimento libertário norte-americano, que tem como um dos ícones o pré-candidato a presidente republicano Ron Paul, o Liber é o mais “radical” da nova direita. Em linhas gerais, o partido prega a dissociação total entre Estado e economia e o princípio da não agressão a indivíduos pacíficos.

“Para nós o Estado precisa ter apenas alguma participação na segurança pública, ainda assim com a concorrência de empresas privadas e com a garantia de que o cidadão possa ter armas para se defender”, complementa Machado.

Um pouco mais distante do ultraliberalismo está o Novo, que tem como presidente o executivo do mercado financeiro João Dionísio Amoedo, de São Paulo. Segundo ele, a principal bandeira do partido é a criação de um aparato estatal mais eficiente. “Queremos uma contrapartida melhor entre os impostos que pagamos e os serviços que recebemos”, diz.

Em segundo lugar, o Novo defende uma maior participação comum do cidadão na vida política. Por último, idealiza a construção de um ambiente de empreendedorismo, em que os brasileiros sejam menos dependentes do Estado. “Nós não somos contra os programas sociais, como o Bolsa Família, mas acreditamos que eles precisam ser colocado em uma escala de tempo, com começo, meio e fim.”

Outra diferenciação diz respeito aos investimentos em educação pública. “Deveríamos focar no ensino básico, e não no superior. Achamos que isso garante igualdade de condições para o desenvolvimento da sociedade.”

Já o Federalista se apresenta como uma alternativa de centro-direita. “Hoje a maioria das pessoas se coloca como de esquerda e nem sabe o que isso quer dizer”, diz o presidente da legenda, Thomas Korontai, de Curitiba. O partido concentra as propostas na tese de que o Brasil precisa descentralizar sua administração.

“Propomos um choque sistêmico: as coisas só vão voltar a funcionar quando os estados tiverem mais autonomia, principalmente tributária”, complementa Korontai, que é empresário. Segundo ele, há um falso consenso de que o humanismo é uma propriedade da esquerda. “Como é que as pessoas vão conquistar dignidade se não possuem autodeterminação?”

Não há muito espaço para a direita no Brasil

Partidos defensores da direita liberal podem encontrar um nicho na política brasileira, mas ele não é muito grande. A avaliação é do pós-doutor em Ciência Política pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, da sigla em inglês), Antônio Octávio Cintra. Para ele, o Brasil tem um histórico muito grande de intervenção estatal que está arraigado na maioria absoluta dos eleitores.

“Há um novo público que se identifica com os princípios da competição, com o darwinismo social. A direita tem o seu público, mas ele não é muito grande”, diz Cintra. Segundo ele, há um equívoco ideológico entre setores liberais que, ao mesmo tempo que defendem menos impostos, beneficiam-se com políticas governamentais. “É o caso do empresariado beneficiado com as recentes medidas da política industrial.”

Cintra também ressalta que não é só a direita que enfrenta problemas de identidade. “O governo Lula, por exemplo, adotou medidas econômicas bem próximas à direita. Tanto que você tem partido de direita, como o PP, que está na base aliada até hoje.”

Fonte: Gazeta do Povo