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4 anos sem Fábio Campana: jornalismo e política que não existem mais

Hoje, completam-se quatro anos da morte de Fábio Campana, o maior jornalista político que o Paraná já teve. Campana foi mais do que uma referência: foi uma escola de jornalismo, de política e de literatura. Um intelectual com faro de repórter e vocação de romancista. Um provocador de ideias, capaz de incomodar os poderosos e, ao mesmo tempo, encantá-los com sua escrita.

Nascido em Foz do Iguaçu, de onde herdou um certo espírito de fronteira e confronto, Fábio Campana se radicou jovem em Curitiba e passou a influenciar tudo o que se pensava (e se tramava) no Centro Cívico. Atuou como colunista, comentarista, secretário de Estado, escritor, editor e, sobretudo, cronista da política paranaense no impresso, na rádio, televisão e no digital.

Sua coluna na Gazeta do Povo e depois o seu blog eram leituras obrigatórias para quem quisesse entender o jogo por dentro – e foi ali que ele marcou com seu estilo direto, ácido e insubstituível no colunismo político. Era uma espécie de “diário oficial” para 10 entre 10 pessoas ligadas no meio político: se saiu no blog do Fábio Campana, acontecia. 

Na política, o “Barba” foi dos bastidores e da linha de frente. Conselheiro, confidente e crítico, comunista na juventude, preso político na ditadura e, mais tarde, secretário nos governos de Álvaro Dias e Roberto Requião – deste último, acabou um crítico ferrenho nos anos finais. Criador do lendário personagem Ferreirinha, atuou ainda como marqueteiro e influenciou eleições e decisões que mudaram o Paraná político.

Mas Campana era também – e talvez antes de tudo – um grande escritor. E como lembrou o jornalista iguaçuense Rogério Bonato em recente coluna, “Campana foi empreendedor das palavras”. Criou revistas de qualidade únicas como Et Cetera e Ideias, dirigiu a editora Travessa dos Editores e incentivou gerações de escritores, sempre entre livros, cafés e confidências. Seus livros são retratos filosóficos e viscerais.

Em O Último Dia de Cabeza de Vaca, por exemplo, deu forma literária a uma terra de excessos e mitos, quase sempre com o amargor de quem já viu demais. Mantinha uma convivência intensa com nomes como Dalton Trevisan, Jamil Snege, Wilson Gomes, Jaime Lerner e Nego Pessoa – figuras com quem dividia muito mais que afinidades literárias: dividia o silêncio, a cidade e a lucidez.

Foi uma das milhares de vítimas da triste pandemia da Covid-19, que muitos ousaram tratar como gripezinha. 

O Brasil, o Paraná e Foz do Iguaçu costumam ser ingratos com a memória dos seus grandes personagens. Por isso cabe sempre lembrar de Fábio Campana. No fundo, é lembrar também de uma política e de um jornalismo que não existem mais.