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O Paraná da Paccar e da Sumitomo, por Gilmar Mendes Lourenço

As inaugurações da unidade da montadora holandesa de caminhões DAF, integrante da corporação norte-americana Paccar, no município de Ponta Grossa, nos Campos Gerais, e das instalações da fábrica de pneus do grupo japonês Sumitomo, em Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), no começo de outubro, confirmam o descolamento da dinâmica industrial paranaense da retração ou, na melhor das hipóteses, estagnação brasileira. Em outros termos, ao lado do revigoramento dos níveis de atividade e, sobretudo, dos investimentos no Estado, observa-se enfraquecimento do parque manufatureiro nacional.

Paccar e Sumitomo configuram dois exemplos indiscutíveis da redescoberta das terras paranaenses pelos empreendedores internacionais, nacionais e locais, depois de quase uma década de radares privados captando sinais pouco receptivos ao capital produtivo, interessado em participar da consolidação da etapa de avanço e adensamento industrial regional, iniciada em 1995 e centrada na verticalização do agronegócio, na modernização do parque madeireiro e papeleiro e na formação de um sofisticado polo automotivo.

A mutação virtuosa ocorreu a partir do começo de 2011, marcada pela preparação e aplicação de um arranjo institucional negociado entre o setor público e os demais atores sociais atuantes no Paraná, na direção da restauração de uma atmosfera favorável à multiplicação dos negócios por aqui, atestada pela atual colheita de indicadores econômicos correntes e antecedentes.

A título de exemplo, a produção industrial do estado cresceu 3,1% entre janeiro e agosto de 2013, quando comparada ao mesmo período de 2012, contra incremento de apenas 1,6% para a média brasileira. Tal performance foi a terceira melhor do país, atrás apenas de Rio Grande do Sul (6%) e Bahia (5,9%), ancorada no vigor dos principais vetores industriais regionais, com ênfase para o agronegócio, a metalmecânica, a química e petroquímica e os insumos para a construção civil.

Na mesma linha de eficiência, no terreno tributário, levantamento feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Sebrae identificou o Paraná como a unidade federada com a menor carga de impostos incidente sobre as micro e pequenas empresas. Já na área financeira, apurações efetuadas pela revista Amanhã e pela Consultoria PwC mostram que as organizações operantes no Paraná encabeçam a classificação das 500 maiores da Região Sul, quando considerada a variável que sintetiza os parâmetros contábeis ligados a patrimônio, faturamento e lucro.

No entanto, o aspecto mais relevante denotado no lançamento da Paccar e da Sumitomo repousa na maturação do portfólio de mais de R$ 25 bilhões garimpado pelo Programa Paraná Competitivo, desde fevereiro de 2011, contra atração de pouco mais de R$ 16 bilhões de recursos privados para o estado entre 2003 e 2010. Aliás, a cesta de dados e informações econômicas relativas ao interregno 2011-2013 expõe maior qualidade e consistência do que a edificada nos oito anos anteriores, caracterizados por uma espécie de represamento da demanda por investimentos.

O evento também expressa o resultado da manifestação da preocupação intransigente da sociedade paranaense com a construção de um modelo de desenvolvimento regional diversificado e distribuído de forma mais equânime geograficamente, reforçada pelas incursões pulverizadas da Agência de Fomento e pela inserção e presença financeira do Banco Regional de Desenvolvimento da Região Sul (BRDE).

Gilmar Mendes Lourenço, economista, é diretor-presidente do Ipardes e Professor da FAE.