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Cientista brasileiro ganha a Medalha Fields, o ‘Nobel’ da matemática

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O matemático Artur Avila é o primeiro brasileiro a ganhar a Medalha Fields, o prêmio mais prestigioso da disciplina, frequentemente comparado ao Nobel. O anúncio foi feito na tarde desta terça-feira no site da União Internacional de Matemática (IMU na sigla em inglês), responsável pela premiação. As informações são do site da revista Piauí.

A IMU tinha planejado fazer o anúncio na noite desta terça, manhã de quarta em Seul, durante a abertura do Congresso Internacional de Matemáticos, mas a informação já está disponível em seu site. A Academia Brasileira de Ciências também anunciou o prêmio de Artur Avila em seu site. A premiação pode ser acompanhada em tempo real aqui, a partir das 21h (horário de Brasília). O site da piauí trará notas e vídeos sobre Artur feitos por João Moreira Salles, editor da revista, que acompanha a cerimônia em Seul.

Doutor pelo Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada – o Impa, com sede no Rio de Janeiro –, Avila é o primeiro ganhador da medalha formado numa instituição do hemisfério Sul. A Fields é o maior prêmio já conquistado por um cientista brasileiro de qualquer área do conhecimento. (Avila também tem nacionalidade francesa e vínculo com o CNRS, Centro Nacional de Pesquisa Científica daquele país, e divide seu tempo entre o Rio e Paris.)

Artur Avila é especializado no estudo dos sistemas dinâmicos, área que investiga a evolução de fenômenos variados no tempo. Valendo-se das ferramentas desse campo, ele atacou uma série de problemas que haviam derrotado outros colegas.

Oferecida pela União Internacional de Matemática, a Medalha Fields foi concebida para celebrar grandes realizações em várias áreas da disciplina, mas também para estimular novos trabalhos de impacto. Por isso, é concedida a pesquisadores com idade máxima de 40 anos. Foi batizada em homenagem ao canadense John Charles Fields, que a idealizou no final dos anos 1920 (à sua revelia – ele preferia que ela não fosse associada a qualquer nome). Embora seja a mais cobiçada honraria da matemática, não se trata de um prêmio de valor elevado – Avila receberá cerca de 31 mil reais.

A medalha é entregue a cada quatro anos, no Congresso Internacional de Matemáticos, a até quatro pesquisadores. Até o início deste ano, apenas 52 matemáticos haviam ganhado a medalha desde a sua instituição, em 1936. Além de Artur Avila, os outros medalhistas de 2014 são o canadense-americano Manjul Bhargava, da Universidade Princeton; o austríaco Martin Hairer, da Universidade de Warwick; e a iraniana Maryam Mirzakhani, da Universidade Stanford, primeira mulher laureada.

A Medalha Fields de Artur Avila coroa o projeto de estabelecer no Brasil um centro de pesquisa matemática de ponta, iniciado com a fundação do Impa em 1951 pelos matemáticos Lélio Gama, Leopoldo Nachbin e Mauricio Peixoto. O Impa começou a atrair matemáticos brasileiros que tinham ido se formar no exterior e estavam de volta ao país; não demorou até que passasse a formar doutores e se tornasse um polo produtor de matemática de alto nível feita em território nacional. O instituto ganhou prestígio ao longo dos anos e atrai matemáticos vindos da América Latina e de outros cantos do mundo.

A linhagem de Artur Avila mostra bem a transformação pela qual o Impa passou desde a sua criação. Jacob Palis, seu “avô acadêmico”, fez parte da primeira geração de matemáticos brasileiros que decidiu seguir carreira acadêmica no país. Palis se doutorou na Universidade da Califórnia em Berkeley sob a orientação do americano Stephen Smale, um dos maiores matemáticos do século passado, ele próprio medalhista Fields de 1966. De volta ao Brasil, Palis ajudou a implantar no Impa uma escola forte no estudo dos sistemas dinâmicos. Dentre seus primeiros alunos no Impa estava Welington de Melo, que viria a ser o orientador de Artur Avila.