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Tom Waits retoma rain dogs?

por Thales Menezes
FSP

Tom Waits, 61, não lançava um disco de material novo desde “Real Gone”, em 2004. Nesse período, apareceu como ator em cinco filmes. Mas “Bad as Me”, um álbum bem barulhento, chega no dia 24 às lojas americanas para devolvê-lo à música. É o 20º disco do californiano. A voz continua a mais grave e rouca do rock, mas a moldura musical mudou. As canções de cabaré e de inspiração vaudeville abriram espaço para números mais roqueiros. Os metais seguem fortes, mas poucas vezes a guitarra apareceu tanto em um trabalho de Waits.

Em algumas faixas, tal destaque se impõe pela presença de um convidado especial: Keith Richards, parceiro à altura do cantor quando se trata de fazer som sujo e beber garrafas de uísque. A sondagem veio por causa de uma das faixas, “Satisfied”, na qual Waits provoca os Stones e seu clássico “Satisfaction”, que classifica de “um bocado conformista”.

Os versos de Waits são explícitos: “Agora, sr. Jagger e sr. Richards, eu vou arrancar a pele onde vocês só se coçaram”. E canta isso em cima de mais um riff matador do guitarrista dos Stones.

Os dois cantam em dueto “Last Leaf”, não por coincidência a faixa mais roqueira. Declaradamente inspirado pelos sons que seus filhos escutam e pela retomada do barulho na produção recente do amigo Lou Reed,

Waits soa mais pesado, mais urgente.

Mas ele nunca produz nada facilmente classificável. Vai da virulência da faixa de abertura, “Chicago”, ao rhythm’n’blues com acento latino de “Back in the Crowd” ­-essa talvez a mais palatável, a ser lançada em single. As letras voltam a louvar as pessoas que tomam o caminho errado na vida. “New Year’s Eve” é um hino aos bêbados, em versos carinhosos.

O melhor de “Bad as Me”, na verdade, é mostrar que Waits não trocou a carreira de cantor pela de ator, um risco constante desde que se tornou amigo de Francis Ford Coppola no final dos anos 70. Primeiro, gravou a trilha belíssima de “O Fundo do Coração”, de 1982. Depois, fez pontas em mais dois longas de Coppola, “Vidas sem Rumo” e “O Selvagem da Motocicleta”. E pegou gosto.

Já são 28 filmes no currículo do cantor-ator, sempre que o papel requer alguém esquisitão e muito na dele. Nada contra, mas o melhor Tom Waits vem da música.