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Será que alguém vai lembrar de Ozzy por sua música? – por André Barcinski

Acaba de sair no Brasil o DVD “God Bless Ozzy Osbourne”, um documentário sobre a vida e obra do maior comedor de morcegos do rock. Apesar de produzido pelo filho, Jack, o documentário não perdoa Ozzy, que é descrito como um pai ausente e irresponsável.

Numa das sequências mais tristes, seu filho Louis relata lembranças de infância, que invariavelmente envolviam o pai desmaiado no sofá, com o nariz cheio de cocaína e várias garrafas vazias espalhadas no chão. Outra cena marcante – e bem mais divertida – mostra Ozzy deitado num sofá, assistindo aos clipes pavorosos que fez nos anos 80, quando tinha um cabelo igual ao da Ana Maria Braga e usava roupas de lantejoulas. Nem ele agüenta os clipes. Divertido também é ver Paul McCartney falando sobre Ozzy.

Mas o que mais gostei no filme foram as cenas de arquivo da época de Ozzy no Black Sabbath. Nos últimos anos, a fama de palhaço de Ozzy desviou a atenção de seu trabalho no Sabbath.

Se Ozzy tivesse morrido de overdose em 1976, seria celebrado hoje como um Jim Morrison do metal. Mas ele sobreviveu, virou uma caricatura de rockstar doidão e simpático e, com isso, eclipsou a importância de sua primeira banda.

Depois de ver o filme, peguei meus CDs do Sabbath e ouvi os quatro primeiros na sequência: “Black Sabbath” (1970), “Paranoid” ( 1970), “Master of Reality” (1971) e “Volume 4” (1972).

São discos que conheço de cor e que me acompanham desde a adolescência. Mas é bom passar um tempo longe deles e redescobri-los.

Está tudo lá: o heavy metal, o noise, o doom, os drones, o clima dark. Impossível imaginar tudo que veio depois – punk, pós-punk, gótico, hardcore, grunge – sem aqueles quatro discos.

“Volume 4”, então, é uma obra-prima absoluta. Um dos maiores discos cocainômanos da história (custou 65 mil dólares para produzir e outros 75 mil em pó para a banda), é uma radiografia dark do início dos anos 70. Cortesia de quatro doidões de Birmingham que mal sabiam escrever os próprios nomes.