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O dia em que conheci Donald Trump

Fábio Campana

Conheci Donald Trump em junho de 1993. Eu estava em Nova York para acompanhar uma palestra do então governador Requião a investidores americanos. Depois da obrigação, a diversão. Recebemos convites para ver Evander Holyfield contra Alex Stewart em Atlantic City. Antes da luta, fomos apresentados a Trump, uma lenda dos negócios, dono do maior cassino do planeta, conhecido pelas declarações esdruxulas sobre política e economia que costumava fazer. Ele despejava insultos contra Bill Clinton e seu vice, Al Gore, que ele chamava de Al Bore.

Trump falava e ria de suas próprias piadas de péssimo gosto. Não ouvia, só ele falava, parecia muito acelerado e cheguei a pensar, “esse homem cheira”. Sempre que uma mulher passava ao nosso lado, dizia o que qualquer cafajeste diz. Irritado com o coro da geral “free Tyson”, vomitou o que pensava sobre os negros. Nunca vi tanto preconceito acumulado em uma só pessoa. Durante a luta, levantava-se para dar socos no ar e gritar com Stewart, por quem torcia. Boquirroto, não economizava palavrões.

Holyfield venceu, Trump desistiu de falar sobre a luta e voltou a atacar Clinton, que fora empossado há alguns meses. Sem modéstia, afirmou que era o único americano preparado para presidir o país. Despediu-se com apertos de mão e sumiu escoltado por uma tropa de guarda-costas, dessas que se vê em filmes de Hollywood.

Tudo que eu ouvira sobre Trump antes de conhecê-lo se confirmou. O homem era idêntico ao estereótipo que se construiu sobre ele. Me pareceu um americano típico de baixa extração cultural, que se vê em filmes a comprar caixas de cerveja para embebedar-se diante da televisão enquanto assiste a um jogo de futebol americano. Enfim, um brutamontes, mas com muito dinheiro, que acredita que pode comprar tudo, até um mandato de presidente da maior potência do mundo.

Rimos muito dessa pretensão que nos pareceu absolutamente descabida, sonho de um ignorante em sua soberba de milionário esperto. Essa era a minha impressão até a madrugada de hoje, quando aconteceu. Trump venceu Hillary Clinton e é o novo presidente americano, o homem mais poderoso do planeta, que pode tomar iniciativas desastrosas para toda a humanidade.

Sei que há contrapesos na democracia, que Trump não poderá fazer tudo que quer, imaginou e afirmou durante a campanha. Mas certamente o mundo agora é menos seguro, o vento da extrema direita atrabiliária e populista varre o planeta. Certamente este é o fim do mundo que conhecemos. Outro virá e tenho péssimos presságios que espero se desmintam como se desmentiu minha previsão de que o bárbaro Trump jamais se elegeria presidente dos Estados Unidos da América.