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“Mulher no poder é um caminho sem volta”

O fim do século XX foi marcado pela conquista e consolidação dos direitos civis. Em todo o mundo ocorreram movimentações intensas dentro da sociedade, uma verdadeira revolução cultural, e em meio a essas conquistas, uma das mais importantes foi a conquista da mulher, que se tornou independente e se livrou das amarras de uma sociedade que a obrigava a ter um papel secundárias nas famílias e no trabalho, subjugadas e dependentes do formato patriarcal, onde o homem tomava todas as decisões .

Agora no XXI, o seu papel muda mais uma vez, se antes era a consolidação de seus direitos, agora a mulher luta pelo empoderamento, em um a sociedade que mesmo sendo a maioria, ainda não possui posição de destaque, seja na política ou no mercado de trabalho. “Mesmo sendo maioria ganhamos menos e temos menos representatividade, no executivo, legislativo e judiciário. E isso vai mudar, é um caminho sem volta”, na opinião da médica, ativista social e vereadora em Curitiba pelo Partido Verde, Maria Leticia Fagundes.

“Entramos em uma era de empoderamento das mulheres. No mundo todo, vemos as mulheres ascendendo ao poder e ao centro das tomadas de decisões, até mesmo na mídia podemos observar esse fenômeno, nos filmes, na música, em games ou na tv, o papel da mulher mudou, não somos mais as mocinhas desamparadas esperando serem salvas, agora as mulheres “salvam o dia”. “Esse é um processo sem volta e no Brasil temos que afirmar esses posicionamento, somos a maioria da população e do eleitorado. Mulheres que trabalham dia e noite com salários menores, mães que abrem mão de suas carreiras para cuidar dos filhos, e as jovens, que já ocupam espaços importantes, como nas universidades, onde também somos a maioria”.

Sonho
Formada pela Faculdade Evangélica de Medicina do Paraná (Fempar) e pós-graduada pela Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto (FMRP-USP), Maria Letícia é médica legista de carreira no Instituto Médico Legal do Paraná, onde faz frente aos direitos das mulheres no atendimento às vítimas de violência doméstica. “Me formei em 1985, mas por pouco não me tornei advogada, cheguei a cursar dois anos por influência da minha irmã, mas desde de pequena já tinha o sonho de ser médica e essa vontade falou mais alto. Trabalhar no atendimento as vítimas de violência, especialmente as mulheres, abre os olhos para realidade cruel e desumana na qual muitas mulheres vivem. É devastador, e isso tem que mudar”.

Na câmara municipal, é a única médica entre os 38 vereadores. “Meu trabalho tem sido focado em saúde e segurança nesse primeiro mandato e, dentro desse contexto, tenho dado prioridade ao enfrentamento à violência contra a mulher, com um olhar específico para seus direitos e de seus filhos”, destaca.

Ativismo
O ativismos social é outra face da atuação de Maria Letícia na sociedade paranaense. É fundadora da MaisMarias, organização iniciada em 2012, a partir da Campanha de Combate à Violência Contra as Mulheres, da Associação dos Médicos Legistas do Paraná.

“A MaisMarias tem como compromisso informar a sociedade sobre a Lei Maria da Penha, por meio de palestras em comunidades de diferentes bairros de Curitiba, Região Metropolitana e interior do Paraná. É um projeto que a cada dia cresce mais e me dá muito orgulho”

Triatleta e corredora de rua, Maria Letícia Fagundes também é idealizadora da Corrida e Caminhada MaisMarias contra a Violência, que reúne anualmente centenas de apoiadores da causa. “As pessoas tem vontade de participar e colaborar com a tão esperada mudança, e ela só será possível com engajamento da sociedade. O MaisMarias prova que é possível sim termos uma sociedade mais justa e interessada nos problemas da maioria”, completa.

Atuação
Na câmara municipal Maria Letícia é integrante da maior bancada feminina na história da casa. “Essa atual legislatura comprova como a mulher vem crescendo dentro da sociedade. nunca tivemos tantas vereadoras atuando na nossa política nativa. são mulheres vereadoras, secretárias municipais em pastas importantes e nos quadros de direção. A maioria dos dirigentes das unidade de saúde em Curitiba são mulheres , por exemplo. E isso se reflete em outros setores públicos, como na educação, onde também somos a maioria das professoras e diretoras das escolas públicas.

“Desde que assumi mais esse desafio na minha vida, faço questão de afirmar que agora eu “estou” vereadora, pois isso deixa claro que não tenho ambição de me tornar uma política profissional, mas sim uma agente social que colabora e trabalha pela transformação da nossa sociedade afim de torná-la mais justa, tolerante e fraterna”.

Livro
No final de julho, Maria Letícia lançou um livro que reúne textos de sua autoria publicadas na imprensa no período de dois anos.

“Escrevi um livro que junta diversas histórias vivenciadas no cotidiano do meu consultório onde pude observar que falta sensibilidade no enfrentamento das dificuldades que a maioria das mulheres enfrenta, seja em casa, no trabalho, no estudo ou nas ruas. É preciso parar e pensar no que realmente queremos para nossa sociedade e as futuras gerações de brasileiros e isso passa fundamentalmente pela valorização da mulher e da família”, defende.

“Como médica, mãe, filha, amiga, esposa, e agora vereadora, posso dizer que entre tantos desafios enfrentados, a política e as questões da mulher são as que mais podem avançar. A política não é uma moeda de troca, pode e deve ser feita de maneira justa e honesta, precisamos de bons projetos e metas para trazer mais qualidade de vida para nossa população”, conclui.