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Minha ideia do punk rock é que cada um tem o seu livro para escrever, diz Bad Religion

Da Gazeta do Povo

A banda punk Bad Religion, formada em 1979 na Califórnia, chega a Curitiba hoje para uma apresentação às 22 horas no Curitiba Master Hall. No show, mostram as músicas de seu mais recente álbum, The Dissent of Man, lançado no ano passado. Com quinze álbuns de estúdio, o sexteto liderado pelo vocalista Greg Graffin chega à sua terceira década com uma sonoridade que se renova sem perder as características principais do grupo: melodias vocais poderosas e letras politizadas. Parte dessa extensa carreira, é claro, também será lembrada no show.

“Queremos mostrar para o público de Curitiba, além do nosso novo álbum, músicas antigas que nossos fãs da América Latina ainda não ouviram ao vivo”, conta o baixista Jay Bentley, um dos fundadores da banda, numa entrevista concedida com exclusividade à Gazeta do Povo. Bentley falou sobre o momento que a banda vive, a cena punk americana e sobre regravar músicas antigas.

O Bad Religion está há dez anos com a mesma formação. Como você avalia o presente momento e a atual equipe?
Eu acho que todo mundo está feliz e confortável, talvez pela primeira vez em muito tempo. Quando assinamos com a Atlantic [gravadora pertencente ao grupo Warner Music, com que a banda assinou contrato de 1994 a 2001] sentimos muito a pressão de adentrarmos a grande cena musical, e acho que ninguém ficou feliz com isso. Com os últimos discos, voltamos às raízes da época pré-Atlantic e nos reerguemos. Estamos sem o peso de precisar ser alguma coisa, nossa única preocupação é a diversão. Quanto à formação, embora tenhamos reunido os três guitarristas que fizeram a história da banda, tocamos ao vivo apenas com Brian [Baker] e Greg [Hetson], já que o Brett [Gurewitz] raramente viaja com a gente. Já no estúdio, o Brian faz a maior parte do trabalho, ele é um guitarrista simplesmente fantástico.

Como você vê a atual cena punk americana? A crítica social ainda é uma preocupação?
Eu não acho que a crítica política ou social tenha sido popular algum dia. Existem muitas bandas boas no underground, mas por causa do sucesso do punk rock, existe muita gente querendo ser o próximo Green Day ou o próximo emo, ou o que quer que esteja na moda. É mais fácil falar de temas universais, como relacionamentos. Ninguém quer fazer rock sobre homens de negócios que ferram a sociedade (risos). E as bandas estão mais preocupadas em copiar o que é popular do que fazer um som de um jeito original. Isso nunca é bom para o punk rock. Minha ideia do punk rock é que cada um tem o seu livro para escrever, o seu filme para produzir. Não deveriam tentar ser outra banda… tudo bem se você quiser ser cinco bandas, porque aí você acaba criando algo único (risos)!

É comum que bandas com um extenso repertório regravem canções antigas. Vocês pensam em fazer isso?Provavelmente não. Não nos encontramos muito; e nos reunir para fazer coisas que já fizemos parece um desperdício de um dos nossos recursos mais valiosos que é o nosso tempo juntos. Seria divertido regravar Into the Unknown [o segundo álbum da banda, de 1983] sem o teclado? Claro! Mas vai acontecer? Não (risos).

O que você achou do disco de tributo ao Bad Religion, Germs of Perfection, lançado no ano passado?Absolutamente fantástico! É por isso também que não regravamos nada. É um daqueles momentos que assumimos uma posição de humildade ante versões de músicas nossas que são muito melhores do que as originais. É como o nosso site. A gente tem um site da banda, mas existem sites feitos por fãs que são muito melhores que o nosso! Tributos como esse fazem mais sentido para mim do que nós regravarmos How Could Hell Be Any Worse? [o primeiro álbum, de 1982].

Serviço:Bad Religion. Curitiba Master Hall (R. Itajubá, 143), (41) 3248-1001. Hoje, às 22 horas. R$ 104 (meia-entrada, válida para estudantes, pessoas acima de 60 anos, professores, portadores de necessidades especiais e doadores de sangue).