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Intrigas, acusações e mágoas

Daniel Pereira e Marcela Mattos, Veja

Michel Temer está finalizando o que chama de “documento histórico” sobre os dois anos e sete meses em que presidiu o Brasil. Entre julho e novembro, ele gravou dezesseis horas de depoimentos para o marqueteiro Elsinho Mouco e o escritor e filósofo Denis Lerrer Rosenfield, durante dez encontros realizados nas bibliotecas dos palácios da Alvorada e do Jaburu. O material será transformado em livro e num documentário, ambos com o mesmo título: O Brasil de Temer. VEJA teve acesso a parte dos depoimentos do presidente. Nela, Temer fala do impeachment de Dilma Rousseff à transição para Jair Bolsonaro, da família aos aliados encrencados com a Justiça. Mas fica claro que sua prioridade é registrar a sua versão sobre o dia em que o seu governo, na prática, ruiu — a quarta-feira em que se tornou pública a informação de que os donos da JBS haviam fechado acordo de delação premiada e acusado o presidente de se beneficiar pessoalmente de um gigantesco esquema de corrupção. Em seu relato, Temer apresenta-se como vítima de uma caçada judicial e de uma conspiração cujo objetivo era destituí-lo do poder e encarcerá-lo.

O capítulo sobre o escândalo da JBS recebeu o título de “A trama”. Temer conta que estava reunido com governadores, discutindo uma forma de renegociar as dívidas dos estados com a União, quando foi informado por um assessor sobre a bomba que explodira em Brasília. Às 19h30 de 17 de maio de 2017, o colunista Lauro Jardim publicou no site do jornal O Globo a informação de que o empresário Joesley Batista entregara ao Ministério Público uma conversa gravada entre ele e Temer. Nela, conforme noticiado naquele dia, o empresário dizia que estava dando dinheiro para comprar o silêncio do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, e Temer respondia: “Tem que manter isso, viu?”. O diálogo tinha a aparência de uma tentativa do presidente de obstruir as investigações, o que poderia levar à cassação de seu mandato. “Fiquei chocadíssimo ao saber daquilo e percebi que aquilo daria pretexto às maiores campanhas difamatórias contra mim e, em segundo lugar, uma tentativa de derrubar o presidente”, diz Temer, ao relembrar as primeiras horas depois daquela hecatombe.