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Gleisi quer censurar FED

Gleisi Hoffmann quer censurar FED pro avaliação do Brasil

Gleisi Hoffmann (PT-PR) anunciou nesta terça-feira (18) que apresentará no Senado voto de censura a uma avaliação do Federal Reserve (FED), banco central americano, que classifica a economia brasileira como a segunda mais vulnerável de uma lista de 15 países emergentes, à frente apenas da Turquia. O anúncio da senadora foi debatido na reunião desta terça da Comissão de Assuntos Econômicos.

Gleisi acusou o FED de ter extrapolado “seu mandato”, argumentando que “o banco central de um país não pode fazer, oficialmente, avaliação da situação econômica de outro” e que a ação tende a interferir nos mercados “uma vez que os investidores, com base nas conclusões do FED, poderão alterar suas decisões de futuros investimentos”.

O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) discordou de Gleisi e disse que, nesta hora, “não cabem as produções cinematográficas, com os seus efeitos especiais, para mostrar ao povo brasileiro que nós estamos no paraíso, porque não estamos”.

De acordo com o parlamentar, os números dizem o contrário. O próprio Banco Central, acrescentou, reavalia a sua previsão sobre o crescimento da economia do país, “puxando para baixo (para 1,7%) o crescimento do PIB em 2014”. Portanto, no entender do senador paranaense, o Brasil tem que considerar esse estudo do FED. “O que importa é que há um alerta, um sinal amarelo aceso. O Brasil precisa acordar. Nós não estamos em céu de brigadeiro”.

O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) recorreu a uma comédia britânica do fim da década de 1950 para analisar a reação ao relatório do FED. No filme O rato que ruge, a economia de um país imaginário, Fenwick, está na bancarrota. Então, a governante do país é convencida a declarar guerra aos americanos, com o propósito de perder e depois conseguir financiamento para a “reconstrução”, numa referência satírica ao Plano Marshall.

O parlamentar previu que os aliados do governo podem não ter o sucesso esperado em sua convocação de cruzada contra o FED. De acordo com Aloysio, a opinião do Banco Central americano é compartilhada por “muita gente”, até do BC brasileiro, que vem mantendo a trajetória ascendente da taxa Selic. Para Aloysio, o que contribui para a desconfiança foram “a mágica da contabilidade criativa” do governo, o “intervencionismo desastrado” e a desindustrialização do país.

O senador Armando Monteiro (PTB-PE) disse que, “antes de declarar guerra aos Estados Unidos”, é preciso ver que o FED não é uma entidade infalível. No entendimento do parlamentar, a análise pode ter sido contaminada por certos fatores conjunturais, porque, estruturalmente, o Brasil não se encontra em posição de tamanha vulnerabilidade, a ponto de ser comparado com a Turquia.

No entanto, Armando Monteiro sugeriu ajustes na matriz macroeconômica brasileira, para tornar a política fiscal mais consistente com a estabilidade necessária.

Já o senador Cristovam Buarque aconselhou Gleisi Hoffmann a retirar o requerimento de voto de censura, porque tanto sua aprovação como sua rejeição poderiam gerar resultados negativos. A eventual rejeição do voto, acrescentou, seria interpretada como apoio ao FED, enquanto sua aprovação significaria “a politização de um assunto que deve ser analisado tecnicamente”.