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Filósofo francês defende educação global para enfrentar desafios do século XXI

Uma educação global como solução para os inúmeros desafios do século XXI. Na palestra que encerrou o primeiro dia do encontro internacional “Educação 360”, realizado pelos jornais O Globo e Extra, nesta quinta-feira, o pensador francês Gilles Lipovetsky defendeu um ensino que contemple tanto o saber técnico quanto o desenvolvimento pessoal e a compreensão do mundo como único caminho possível para lidar com os problemas da atualidade, da ecologia à violência. As informações são de Mariana Nicodemus n’O Globo.

– O conhecimento técnico é necessário, mas devemos formar seres humanos, e não somente “pessoas úteis”. Precisamos de uma educação que leve em conta o homem em sua globalidade, como um cidadão, e não o veja apenas como produtor e trabalhador. Para isso, educação não pode ser tratada como luxo. É uma exigência frente aos desafios do século XXI.

Conhecido com o filósofo da hipermodernidade, Lipovetsky destacou quatro campos de estudos que considera essenciais a essa educação global e ao futuro do ensino: o meio ambiente, a saúde, a cultura geral e as artes. Sobre a educação ambiental e ecológica, destacou a necessidade de capacitar indivíduos desde a infância para que sejam agentes da preservação do planeta.

– Os jovens agora em formação serão os diretores das empresas que irão organizar a vida urbana no futuro, portanto, precisam estar sensibilizados para respeitar nosso ambiente natural. Para o planeta, não há outra solução que o investimento na formação da inteligência. E a inteligência se forma na escola.

Já em relação à saúde, o filósofo mostrou preocupação com os hábitos alimentares da população mundial, afirmando que a obesidade é um problema de saúde pública até mesmo em regiões caracterizadas pela fome, como a África.

– Mais da metade dos brasileiros, por exemplo, estão acima do peso, e 30% das crianças entre 5 e 9 anos têm sobrepeso. É uma epidemia típica da sociedade contemporânea, pois não temos mais as tradições que organizavam esses comportamento alimentar no passado. Precisamos reagir com educação nutricional para uma vida mais equilibrada.

Lipovetsky defendeu, ainda, a necessidade de uma instrução generalista, que permita compor repertório cultural e histórico e compreender a sociedade onde se está inserido. Ele ressaltou também a importância do desenvolvimento da capacidade de argumentação.

– O saber oferece autonomia aos indivíduos. A cultura geral é indispensável para elevar a capacidade crítica dos jovens e libertar seus espíritos, de maneira que tenham ferramentas para colocar as informações em perspectiva e entender o presente. Não é só a economia e o meio ambiente que precisam de desenvolvimento sustentável. É preciso pensar também na sustentabilidade do indivíduo. É imperativo lutar contra o desequilíbrio existencial resultante do consumo e da cultura do divertimento ininterrupto. Estamos em uma transição cultural para o desenvolvimento de uma ecologia do espírito.

Por fim, o filósofo refletiu sobre a urgência dos investimentos no ensino das artes, área ainda muito desvalorizada na educação formal que, segundo ele, pode garantir melhorias na qualidade de vida, aumentar o sentimento de cidadania e promover a inclusão social.

– A educação artística é secundária no nosso sistema atual, vista como prazer, como algo desimportante. Isso é um erro. A arte é aquilo que pode restituir sentido para as nossas ações, além de ser uma ferramenta para reduzir a violência, ao permitir a expressão da identidade e o reconhecimento social. A sociedade educativa global deve considerar o desenvolvimento da estima pessoal, o reconhecimento do outro e a integração social. A arte promove todas essas coisas. Não é só prazer, tem função social importante.

Gilles Lipovetsky acredita que o investimento no saber artístico é necessário para que se corrija os excessos da sociedade de consumo. Destacou que o problema não é consumir, mas entender o consumismo como objetivo de vida.

– O consumo dá ao ideal humanista uma imagem pobre e inaceitável. O homem não é só consumidor, mas um ser que pensa, que age, que crê, que ajuda os outros. A sociedade do amanhã deve oferecer às pessoas outras ferramentas de sedução que não as compras e as marcas.

O “Educação 360” é uma realização dos jornais O Globo e Extra, com parceria do Sesc, patrocínio da Fundação Telefônica, do colégio pH e Fundação Itaú Social, apoio da Unesco e Unicef e parceria de mídia da TV Globo, Canal Futura, revista Crescer, revista Galileu e TechTudo. Ainda há vagas para as palestras desta sexta-feira. A inscrições são gratuitas e podem ser feitas no local do evento – Av. Ayrton Senna 5.677, Jacarepaguá. A programação está disponível no site www.educacao360.com.