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Empresa “listada” por ex-diretor da Petrobras preso na Lava Jato doou para campanha de Gleisi

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O jornal O Globo revela hoje que as empresas listadas na caderneta de Paulo Roberto Costa, o ex-diretor da Petrobras preso na Operação Lava-Jato, elevaram em mais de dez vezes o valor de doações para campanhas eleitorais em seis anos, conforme os registos do TSE. A PF apreendeu na casa de Costa uma lista com sete empresas, escrita de próprio punho, em data indefinida, com indicativos de pagamento a candidatos e financiamento de campanhas eleitorais. Entre elas está a UTC/Constran que só para campanha de Gleisi Hoffmann (PT-PR) ao Senado em 2010, doou R$ 250 mil.

As prestações de contas ao TSE mostram que cinco dessas sete empreiteiras fizeram doações legais de R$ 10,5 milhões em 2006, ano de disputa aos cargos de deputado, senador, governador e presidente. Quatro anos depois, as doações de seis dessas empresas saltaram para R$ 114,5 milhões. Na última eleição, para prefeito e vereador em 2012, as empreiteiras continuaram generosas com os candidatos, com um desembolso de R$ 116,9 milhões.

Costa anotou numa tabela na caderneta apreendida pela PF, os nomes das empresas e, ao lado, os nomes dos executivos responsáveis, mais a “solução” para cada uma delas. Essa “solução”, segundo suspeita a PF, indica um possível financiamento de campanhas eleitorais. As empreiteiras listadas são Mendes Júnior, UTC/Constran, Engevix, Iesa, Toyo Setal e Andrade Gutierrez. Há ainda uma sétima empresa, a Hope RH, que atua com consultoria e serviços, que doou em 2006 e 2010. Todas as empresas já negaram qualquer tipo de intermediação de doações por Costa. Apenas a Toyo Setal não aparece como doadora oficial de campanhas eleitorais em 2006, 2010 e 2012.

Costa atuava em conjunto com o doleiro Alberto Youssef, que também está preso desde a deflagração da Operação Lava-Jato, em meados de março. A suspeita da PF é de que a dupla arrecadava dinheiro de empresas fornecedoras da Petrobras para abastecer campanhas políticas, seja por dentro – doações registradas no TSE – ou por fora – o tradicional caixa dois.

Ao lado da Mendes Júnior, por exemplo, o ex-diretor da Petrobras escreveu, no campo “solução”: “Está disposto a colaborar. Iria falar com executivos para saber se já ajudaram em algo.” A UTC/Constran, por sua vez, “já está colaborando, mas vai intensificar mais para campanha a pedido de PR” – PR seria uma referência ao próprio ex-diretor da Petrobras.

Candidatos de partidos da base aliada do governo federal lideram em recebimentos das empreiteiras da lista de Costa. Apenas PT e PMDB respondem por mais de 50% das doações das empresas.

O PT está no topo da lista, com R$ 83 milhões em doações recebidas. A Mendes Júnior, por exemplo, doou R$ 1 milhão para a campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010. Naquele mesmo ano, a UTC doou para as campanhas dos senadores petistas Gleisi Hoffmann (PR) e Lindbergh Farias (RJ) e do presidente do PT, Rui Falcão (SP). A Constran – vendida à UTC – doou R$ 250 mil a Aloizio Mercadante, que disputou o governo de São Paulo pelo PT e hoje é ministro da Casa Civil. Segundo a revista “O Empreiteiro”, 100% dos contratos da Constran são públicos e na Mendes Júnior, 96%.

No caso da Andrade Gutierrez, maior doadora de campanhas da lista, o volume de contribuições políticas cresceu muitas vezes acima da sua receita. Em 2006, a empresa mineira doou R$ 4,4 milhões em campanhas, valor que saltou a R$ 65 milhões em 2010 e avançou ainda a R$ 82 milhões em 2012. No período, a receita bruta da empresa avançou menos, de R$ 1,73 bilhão em 2006 para R$ 4,6 bilhões em 2012, segundo a revista “O Empreiteiro”.