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‘É mais exceção do que regra’, diz CEO do Parque das Aves sobre mulheres na liderança

Foi entre as melodias que Carmel Croukamp Davies, de 40 anos, achou ter encontrado o melhor tom para levar a vida. As informações são do G1.

A musicóloga se formou em Oxford, em 2003, e deu aula na mesma universidade até 2009. Mesmo ano em que descobriu um novo mundo ou, no mínimo, um novo país. Longe da cultura britânica, do outro lado do Oceano Atlântico, ela conheceu o que logo chamaria de lar.

No Brasil encontrou as notas que faltavam para compor a melhor música que poderia ouvir. Em meio à Mata Atlântica, se encantou com os sons do vento, das folhas, das águas e, principalmente, das aves.

Há sete anos a musicóloga por formação aceitou o convite de ser a diretora geral da empresa da família, o Parque das Aves, em Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná. Posição que, segundo ela, nunca imaginou assumir.

“Foi um desafio muito grande. Eu acho que situações assim podem ser mais difíceis para as mulheres, porque algumas têm uma tendência maior de se questionar, de não se projetar na posição de líder. Parece que para os homens é mais fácil, porque eles têm mais autoestima”, revelou.

Carmel disse que gosta de participar ativamente de cada ação realizada no parque — Foto: Carmel Croukamp Davies/Arquivo pessoal
Carmel disse que gosta de participar ativamente de cada ação realizada no parque — Foto: Carmel Croukamp Davies/Arquivo pessoal

De cabeça no projeto, ela contou que ao topar o desafio passou a se aprofundar no novo universo que começou a “chamar de seu”.

Após muito estudo, entendeu que o parque deveria focar na conservação das espécies da Mata Atlântica, o bioma que compôs uma nova sinfonia à vida de Carmel.

“Há dez anos eu estava ensinando música. Jamais teria me imaginado aqui, mudei para o Brasil apenas para ficar perto da minha mãe. Hoje sou agradecida, amo tudo aqui. Vejo que podemos fazer a diferença e ajudar a salvar muitas espécies”, relembrou.

Carmel é a diretora do Parque das Aves e, como líder, contou que gosta de participar de tudo — Foto: Carmel Croukamp Davies/Arquivo pessoal
Carmel é a diretora do Parque das Aves e, como líder, contou que gosta de participar de tudo — Foto: Carmel Croukamp Davies/Arquivo pessoal
Carmel é a diretora do Parque das Aves e, como líder, contou que gosta de participar de tudo — Foto: Carmel Croukamp Davies/Arquivo pessoal

De mãe para filha

O sonho do Parque das Aves nasceu com o pai de Carmel, Dennis Croukamp. Mas após a morte dele, quem manteve o lugar foi a mãe dela, Anna-Sophie Helene.

“Meu pai morreu dois anos depois que abrimos o parque. Minha mãe foi dona de casa por muitos anos, não falava português e, mesmo assim, decidiu que ia tocar o negócio. Ela foi aprendendo tudo. Foi um modelo para mim, me ensinou muito”, contou.

Carmel ao lado da mãe e do funcionário Cícero, no Parque das Aves — Foto: Carmel Croukamp Davies/Arquivo pessoal
Carmel ao lado da mãe e do funcionário Cícero, no Parque das Aves — Foto: Carmel Croukamp Davies/Arquivo pessoal

Segundo Carmel, a atitude que a mãe teve ao assumir algo desconhecido, sem o marido, a inspirou como mulher e a fez pensar em deixar a profissão de professora para ser diretora do parque, mesmo diante das inseguranças que carregava.

“Nós mulheres temos menos modelos para enxergar. É mais a exceção do que a regra quando falamos de papéis de liderança em uma empresa, temos menos modelos do que os homens. É normal olhar uma foto de empresários e ver mais homens do que mulheres”, disse.

Durante uma das ações de melhorias no parque, Carmel e a mãe dela dão orientações aos funcionários — Foto: Carmel Croukamp Davies/Arquivo pessoal
Durante uma das ações de melhorias no parque, Carmel e a mãe dela dão orientações aos funcionários — Foto: Carmel Croukamp Davies/Arquivo pessoal
Durante uma das ações de melhorias no parque, Carmel e a mãe dela dão orientações aos funcionários — Foto: Carmel Croukamp Davies/Arquivo pessoal

Igualdade de gênero

Para a diretora Carmel, é importante que as mulheres incentivem outras mulheres a serem líderes. No Parque das Aves, por exemplo, mais da metade dos cargos de liderança são chefiados por elas.

Segundo a empresa, dos 20 líderes de departamentos, 13 são mulheres, e dos cinco diretores, quatro são do sexo feminino. Entre os 243 funcionários do Parque, 126 são mulheres.

Melissa Corrêa, de 40 anos, é uma das funcionárias do lugar. Há quatro anos na gerência de comunicações, ela contou que foi no parque a primeira vez que teve chefes do sexo feminino e surpreendeu-se positivamente com a experiência.

“É interessante como elas confiam muito mais em mim, elas me jogam responsabilidades, elas me jogam desafios, elas acreditam no meu potencial. E quando não sou capaz, eu vou e converso com elas e a gente trabalha junto. Eu nunca tive esse sentimento de parceria, era sempre mais um lance paternalista, como ‘isso ela não vai conseguir’. Agora é muito diferente.”

Para Carmel ainda é possível ter esperança em um mercado de trabalho com a igualdade de gênero. Entretanto, ela disse que isso ainda levará muitos anos para acontecer, que será um processo longo.

“Todo mundo se beneficia com a igualdade de gênero, nós aprendemos coisas diferentes. Os meninos aprendem algumas coisas e as meninas outras, é cultural, e se complementam. Um tem a colaborar com o outro. O problema é que nem todo mundo pensa assim”, disse a diretora.

A gerente de comunicações, Melissa Correa, em um dos congressos que participou representando o Parque das Aves — Foto: Melissa Correa/Arquivo pessoal
A gerente de comunicações, Melissa Correa, em um dos congressos que participou representando o Parque das Aves — Foto: Melissa Correa/Arquivo pessoal