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Crise de representação

Presidente do Instituto Teotônio Vilela do Paraná, Marcello Richa (1)(*) Marcello Richa

Dados do Tribunal Eleitoral (TSE) disponibilizados neste domingo (30) mostram que aproximadamente 10,7 milhões de pessoas optaram por votar branco, nulo ou se abstiveram durante o segundo turno das eleições municipais, que aconteceu em 57 municípios do país. Isso representa um crescimento de 6% em relação ao segundo turno de 2012 (que registrou 26,5% de votos brancos, nulos e abstenções).

Apesar dos dados serem afetados pela burocracia e demora da atualização cadastral, o que amplia as abstenções, é inegável que os números comprovam que o Brasil vive uma crise de representação que precisa ser analisada e trabalhada para reaproximar a população do debate e processo de construção das políticas públicas.

Não é de hoje que o brasileiro expressa sua insatisfação com a política tradicional e com os desmandos e desvios de conduta de seus representantes. Isso tem sido agravado pelo próprio formato de debate político que existe no país, que muitas vezes é focado na desconstrução e na divisão, o que amplia o descrédito da política e deixa de lado o diálogo construtivo e propositivo, essenciais para a democracia.

Em junho deste ano escrevi um artigo que ressaltava exatamente a necessidade dos partidos em reverem suas atuações e ampliarem seus esforços para reconquistar seu papel como representantes de uma identidade coletiva, promovendo espaço para debates e organização das demandas da população. O grande número de abstenções e votos nulos e brancos reforça isso.

Obviamente que a responsabilidade por essa crise de representação não é restrita apenas a atuação partidária. Nos últimos treze anos o país foi dominado por um projeto de manutenção de poder que nos levou a maior crise econômica da história, gerou escândalos de corrupção sem precedentes e tornou o fisiologismo a principal ferramenta de governabilidade. Somado a isso, a criação de diversos partidos de aluguéis sem viés ideológico ou programático e o aumento da intolerância e autoritarismo no debate político contribuíram muito para o distanciamento e aumento da descrença da população.

O crescimento da rejeição a política e o resultado das eleições municipais mostraram que o brasileiro busca novos caminhos para o país. Caberá ao PSDB, partido que apresentou o maior crescimento nessas eleições e que irá governar 803 municípios em que vivem 48,8 milhões de pessoas, a responsabilidade de promover essa mudança.

Para entender e reconquistar a confiança da população, tanto os políticos quanto os partidos precisam atuar em sintonia com a sociedade, fortalecendo a democracia por meio da pluralidade de ideias, do diálogo construtivo, gestão responsável e, acima de tudo, da prática da boa política, que por muito tempo tem sido negligenciada em nosso país.

(*) Marcello Richa é presidente do Instituto Teotônio Vilela do Paraná (ITV-PR)