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ARTIGO LEMBRA DAS ATROCIDADES DA DITADURA E CONDENA SEU LEGADO

ARTIGO LEMBRA DAS ATROCIDADES DA DITADURA E CONDENA SEU LEGADO

No dia 05 de maio de 2009, o governo do Paraná indenizou 45 pessoas que foram presas em dependências do Estado por motivações políticas, durante a ditadura. Seria um dia comum como tantos outros, mas tornou-se especial para mim, pelas lembranças que me trouxe.

Relatei aos amigos que iria ao evento da reparação, quando um deles me disse: comecei a ler o livro “Brasil Nunca Mais” que relata as atrocidades da ditadura, mas não consegui terminar. Comentei então: Além das prisões, exílios e mortes de algumas gerações, como conseqüência, com a saída de inúmeros homens e mulheres democratas, socialistas, liberal-democratas e comunistas de circulação, nosso país perdeu muito em capital humano e índices de capacidade intelectual. Foram retiradas de circulação centenas de homens e mulheres que participaram da Constituinte de 1946 e viveram sob sua égide durante 18 anos, num período de democracia continuada. Relembramos de nossos pais, velhos petebistas, do grupo dos 11 e peesedistas, que foram perseguidos por defenderem a democracia.

Contei que Juscelino foi a Campo Mourão fazer campanha eleitoral na minha infância. Eu junto com meu pai no seu Jeep o conduzimos do aeroporto ao centro da cidade. Também, comentamos o significado do afastamento de Juscelino, de Jango, de Milton Santos, de Josué de Castro, de Paulo Freire, de Florestan Fernandes, de Guerreiro Ramos, de Celso Furtado, de Darci Ribeiro e de outros democratas e humanistas. E o quanto o Paraná perdeu quando foram interrompidas as trajetórias políticas de Amauri Silva, Nelson Maculam, Leo de Almeida Neves, Alencar Furtado e tantos outros, que fizeram parte do nosso imaginário juvenil, pois para eles nossos pais faziam campanha eleitoral e votavam. Isto tudo nos leva a ter a certeza, de que muitos dos desqualificados que aí estão hoje, não estariam, se estes homens não tivessem suas vidas interrompidas. E hoje com certeza, estaríamos melhores e mais qualificados.

Depois, sigo para o evento de reparação. Uma reparação parcial dos prejuízos causados pelos governantes deste período ditatorial. Entre os contemplados está meu irmão Nelson Serathiuk, que foi para o exílio em 1971, com 17 anos e deverá retornar em definitivo ao Brasil no próximo ano, 38 anos depois! Nelson que lembro quando tinha meus 12 anos, ainda eu morando em Campo Mourão. Vim à Curitiba visitá-lo, pois tinha sido preso, no mesmo período em que meu irmão Vitório já estava encarcerado no presídio do Ahu, lá ficando por aproximadamente 3 anos. Nelson era um dos suportes materiais do lado de fora para os mais de 50 presos. Expunha-se levando e trazendo informações aos familiares, bem como, articulava apoio material e político. Está em minha memória uma imagem em que eu andava por uma das ruas de Curitiba com serração, à procura de meu irmão, num período em que nossos rios não eram canalizados.

Ouvi o discurso do deputado estadual Waldyr Pugliesi relembrando de Rubens Paiva e outros tantos que até hoje não foram encontrados, dos que eram levados à força e não voltavam, concluindo dizendo que 1964 não foi uma Revolução e sim uma Contra-Revolução ao regime democrático que se aprofundava a favor do povo. O deputado Luiz Cláudio Romanelli, destacando que a lei de iniciativa do ex-deputado estadual Beto Richa, com apoio da Assembléia Legislativa e que teve seus efeitos ampliados pelo governador Roberto Requião. E o vice-governador Orlando Pessuti e o corregedor Luiz Carlos Delazari, falaram da história de cada um ali presente, com a sua dignidade agora parcialmente resgatada, e também das pessoas que tiveram suas vidas tolhidas e interrompidas, de seus familiares e dos efeitos que isto causou com as perdas e os traumas psicológicos. Percebemos então o quanto de capital humano este país perdeu e porque estamos tão desqualificados.

O livro "À verdade e as formas jurídicas" de Michel Foucault nos mostra as formas de como as elites, impõem comportamentos para a obediência a um tipo de sistema produtivo dominante injusto e excludente, e nos revela que na teoria de conhecimento de Friedrich Nietzche, a verdade e o conhecimento estão próximos da luta e do conflito do poder na democracia, pois ali está a revelação da verdade e do conhecimento, através do contraditório e não na normalidade imposta.

E por termos tido uma ditadura, impondo uma normalidade, tivemos impedido o exercício da democracia continuada, que gera o conhecimento, ocorrendo assim à desqualificação na política, na justiça, na educação, na ciência, na economia, na cultura e em tantos outros campos. Pois a ditadura não só reprimiu a área política, como nos mostrou o jurista defensor dos direitos humanos Raimundo Faoro, mas a todos os homens e mulheres, nas várias áreas do conhecimento. O que atingiu em muito nossas instituições e partidos. Conservadores ou não. Enfim atingiu a todos! E os seus efeitos perduram até hoje e irão perdurar por muito tempo, lamentavelmente.

Geraldo Serathiuk, advogado, especialista pelo IBEJ e com MBA em Marketing pela UFPR. [email protected]

ARTIGO LEMBRA DAS ATROCIDADES DA DITADURA E CONDENA SEU LEGADO

"No dia 05 de maio de 2009, o governo do Paraná indenizou 45 pessoas que foram presas em dependências do Estado por motivações políticas, durante a ditadura. Seria um dia comum como tantos outros, mas tornou-se especial para mim, pelas lembranças que me trouxe.

Relatei aos amigos que iria ao evento da reparação, quando um deles me disse: comecei a ler o livro “Brasil Nunca Mais” que relata as atrocidades da ditadura, mas não consegui terminar. Comentei então: Além das prisões, exílios e mortes de algumas gerações, como conseqüência, com a saída de inúmeros homens e mulheres democratas, socialistas, liberal-democratas e comunistas de circulação, nosso país perdeu muito em capital humano e índices de capacidade intelectual. Foram retiradas de circulação centenas de homens e mulheres que participaram da Constituinte de 1946 e viveram sob sua égide durante 18 anos, num período de democracia continuada. Relembramos de nossos pais, velhos petebistas, do grupo dos 11 e peesedistas, que foram perseguidos por defenderem a democracia."  Leia mais aqui.

De Geraldo Serathiuk, advogado, especialista pelo IBEJ e com MBA em Marketing pela UFPR. [email protected]