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2019 ano em que o Paraná teve que reaprender a lidar com epidemias

Foto: Divulgação SESA

Descentralizar os serviços de média e alta complexidade foi a grande promessa do governo Carlos Massa Ratinho Junior (PSD) para área da saúde. O ano de 2019, no entanto, foi dedicado a pensar formas de colocar o planejamento em prática. Um Plano Regional foi apresentado, no final do ano, ao Conselho Estadual de Saúde e os primeiros investimentos foram anunciados. Enquanto as grandes transformações estruturais ficarão para 2020, o estado teve que lidar com situações emergenciais, como a epidemia de dengue, surto de sarampo, mortes por gripe e casos de Febre Amarela. As informações são de Roger Pereira na Gazeta do Povo.

“Não houve transição de governo. As informações reais não eram as que recebemos antes da posse. Os restos a pagar foram enormes, recursos foram empenhados sem que os repasses tivessem sido feitos. Tivemos um déficit de R$ 400 milhões no primeiro dia do ano. Então, foi um ano de colocar a casa em ordem, cortar custos, diminuir cargos. O trabalho foi lento e gradual”, justifica o secretário de Saúde, Beto Preto. Como medidas efetivas já deste ano, o secretário destaca a operacionalização do Hospital de Reabilitação Ana Carolina Xavier, em Curitiba, e a integração do Hospital Regional da Lapa com a maternidade municipal.

A descentralização, segundo o secretário, começou a ganhar corpo no final do ano, com a entrega do Plano Regional Integrado do Paraná ao Conselho Estadual de Saúde. “Foram mais de 100 reuniões regionais, para levantar as demandas das cidades e elaborar este plano que, agora, está aberto para debate e deve ser fechado até o final de fevereiro, dando as diretrizes para nossos investimentos em saúde ate 2023”. A secretaria também anunciou, em dezembro, a liberação de R$ 168 milhões em apoio aos municípios, os entes responsáveis pelos serviços de atenção primária à saúde, e a construção de dez ambulatórios multiprofissionais especializados, em todas as regionais do estado.

“Foi o ano de articular os bons projetos. Há muito tempo optou-se pela estratégia de termos três ou quatro grandes serviços. Mas isso faz com que a população precise enfrentar grandes deslocamentos para consultas ou procedimentos, algumas vezes, simples, como operar uma hérnia”, comenta. Com o plano, o estado pretende equilibrar a presença de serviços e insumos, reorganizar a lógica dos pequenos hospitais de acordo com a necessidade de cada região, identificar onde há carências de determinadas especialidades e supri-las.

Outra situação que a gestão estadual tem dado atenção é ao envelhecimento da população. Com a redução da taxa de natalidade e o aumento da expectativa de vida, a pirâmide etária do estado, assim como da maioria do país, está se deslocando, com a população idosa já ultrapassando a população de crianças. “E temos, no estado, apenas 120 geriatras com título de especialista. Destes, apenas 30 atendem ao Sistema Único de Saúde. Não podemos apostar na formação de geriatras, isso leva tempo e depende do interesse do médico pela especialidade. Precisamos treinar os profissionais de saúde, desde a atenção primária até a atenção hospitalar de última necessidade, para o atendimento ao idoso. A população paranaense precisa envelhecer com saúde”, comenta.

Velhos problemas e “novas“ ameaças
Há 10 anos o Paraná foi o estado brasileiro mais atingido pelo epidemia de Gripe A, que causou 393 mortes no estado, em 2009. Desde então, o estado é tratado como prioridade em campanhas de vacinação, tendo o período de imunização antecipado em relação ao restante do país e os grupos de risco (com direito à vacinação pela rede pública) ampliado. A comoção passou, vacinas têm sobrado nas unidades de saúde, e a doença volta a assustar.

O Paraná registrou 129 mortes por gripe em 2019, conforme boletim divulgado no dia 18 de dezembro. O número é 21% maior que os 106 óbitos do ano passado. O número de casos confirmados também cresceu. Foram 672 neste ano, contra 638 em 2018. Todas as regiões do estado tiveram casos de gripe registrados. Depois das mais de 200 mortes de 2016, é o segundo ano consecutivo com aumento nos casos e nos óbitos, o que mostra, mesmo levando em conta a sazonalidade do vírus, que o estado não está atingindo as metas de vacinação, deixando cada vez mais pessoas expostas à doença a cada ano. Uma tendência que vem se repetindo desde que passou o “susto” que a gripe A, causada pelo vírus H1N1, causou na população na surto de 2009.

Mais assustador que os números da gripe no estado é o quadro epidemiológico da dengue, outra doença com a qual o paranaense está acostumando. Depois de um 2018 com o mosquito Aedes aegypti “sob controle”, o Paraná registrou 3293 casos de dengue neste ano (boletim de 17 de dezembro), com 11 municípios registrando mais de 300 casos por 100 mil habitantes, situação considerada de epidemia pelo Ministério da Saúde. O crescimento no número de casos passa dos 3000%, se comparado com os 108 casos registrados no mesmo período epidemiológico do ano passado.

Se dengue e gripe já são problemas conhecidos dos paranaenses, as autoridades de saúde tiveram que lidar, neste ano, com outros riscos com os quais não estavam acostumados. Erradicado no estado há 20 anos, o sarampo voltou a preocupar a população paranaense. Mesmo sem óbitos, foram 648 casos confirmados da doença, que não era registrada no Brasil desde 2016. O Paraná também “importou” de seus vizinhos a febre amarela. Foram 17 casos confirmados no estado, com uma morte.

“Pegamos dois ou três anos de recuo epidemiológico na dengue, 21 anos sem sarampo, e relaxamos. Vacinação, puericultura, é dever de cada do secretário municipal de saúde. Elevamos as pessoas imunizadas em 10%, mas não alcançar todos os níveis preconizados pela Organização Mundial de Saúde  – vacinar mais que 95%”, comenta Beto Preto. “Conseguimos fazer um grande bloqueio da febre amarela e passamos pelo período mais crítico com ‘apenas’ uma morte”, prossegue.

O secretário explica que a dengue atingiu o Paraná com mais intensidade por causa do sorotipo 2 do vírus, enquanto, nos outros anos, o sorotipo mais comum a circular no estado era o 1. “É como se estivéssemos lidando com um novo vírus, não temos imunidade a ele, estamos mais suscetíveis”, diz, informando que o estado iniciou, no final do ano, uma grande mobilização de combate a dengue, envolvendo todas as secretarias do governo.

Para o secretário, o crescimento e, até ressurgimento de doenças aparentemente controladas não surpreende. “É uma bomba-relógio que você tem que esperar. Não foi surpresa. Trabalhar com saúde é isso. Tem que aceitar e trabalhar para reverter quadros. Estamos há muito tempo sem atingir os percentuais de vacinação recomendados. O número de pessoas vacinadas vem caindo a cada ano. A soma do que deixamos escapar a cada ano nos dá esse resultado depois de um tempo”, lamenta.”