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‘DEM tem que trabalhar para ter candidato ao Planalto’, diz Maia

Cristiano Mariz/VEJA
‘DEM tem que trabalhar para ter candidato ao Planalto’, diz Maia

No ano passado, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, foi categórico ao descartar a possibilidade de concorrer ao Palácio do Planalto. Exercendo seu quinto mandato como deputado federal, ele dizia não ter “tamanho” para participar da disputa. A recente ofensiva de seu partido, o DEM, para filiar quadros do PSB e a estagnação dos pré-candidatos de centro nas pesquisas eleitorais, no entanto, mudaram os planos de Maia. Agora, ele defende uma candidatura própria de seu partido à Presidência e a votação de um pacote de projetos que, se aprovado, demonstraria que ele, Maia, tem condições de comandar as mudanças de que o país precisa. “Como não há, no momento, um nome natural no nosso campo político do centro, todos têm condições de serem candidatos. Qual a diferença de 1% para 5%? Zero”, diz. Nesta entrevista a VEJA, Maia acena a fatias importantes do eleitorado. Aos donos do dinheiro, promete empenho em favor da reforma da previdência. Num flerte com entusiastas da pré-candidatura de Jair Bolsonaro, prega mudanças no Estatuto de Desarmamento a fim de garantir ao cidadão comum o porte de armas. Maia não assume a sua candidatura, mas entrou de vez no páreo. “Lula não ganha a eleição. Lula não tem mais condições de atrair alianças para ter tempo de TV. Vai ter que fazer uma campanha mais radicalizada e não vai conseguir caminhar para o centro como fez em 2002”. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Aumentou a chance de aprovação da reforma da previdência? O clima está melhor. Os setores médios da população já estão apoiando a reforma da previdência. O que a gente precisa é saber como chegar ao trabalhador que ganha de um a dois salários mínimos, que não vai ser atingido pela reforma, mas está contra a reforma. O desafio é acertar a comunicação nos primeiros dias de fevereiro, já que a ideia é votar na segunda quinzena de fevereiro. O aposentado, por exemplo, precisa estar a favor da reforma porque, do contrário, vai acontecer no Brasil o que aconteceu em alguns países da Europa, que cortaram de 30% a 50% das aposentadorias.

Como convencer os deputados a aprovar o texto? Temos que chamar cada deputado individualmente para mostrar que a Previdência é uma agenda do Brasil. O mesmo com os governadores. Eles estão sofrendo muito com o aumento permanente de despesas. Cinco estados já não conseguiram pagar o 13º salário dos servidores no ano passado. Neste ano, vão ser sete. Depois, nove. Depois, todos os estados, porque o sistema previdenciário estadual já é deficitário e será cada vez mais deficitário. É uma situação muito grave. Não dá para fugir dessa agenda.

No ano passado, os deputados preferiram fugir dessa agenda? A publicidade do governo já teve um impacto na opinião pública. A gente já tem uma parcela de 30% a 45% da população a favor da reforma. Precisamos continuar trabalhando esse tema para que o deputado, quando vá até a sua base, não tenha esse assunto como um fator de muita rejeição.

A tendência hoje é o Congresso deixar a reforma da previdência para o próximo governo? Se a reforma não for votada agora, chegaremos à eleição com esse tema dominando o debate do mesmo jeito. Quando o candidato prometer alguma coisa, a imprensa vai perguntar: com que dinheiro? Não há alternativa. A União fechou o ano passado com quase 60% de suas receitas comprometidas com a previdência. Quem quer, de fato, tratar de uma agenda social séria, vai ter que tratar da previdência. A população está envelhecendo muito rápido e um grupo ainda se aposenta muito cedo. Em dez a quinze anos, vamos estar com a população mais velha que a população europeia.

O ministro Carlos Marun, novo articulador político do governo, está ajudando ou atrapalhando nesse processo? Ele tem um perfil diferente do ex-ministro Antonio Imbassahy. Ele é mais do conflito e confronto. Se continuar com essa energia, evitando alguns conflitos como o que teve com os governadores, por exemplo, vai poder ajudar muito. Marun é muito determinado, muito corajoso, defende muito o que acredita. Acho que tem que tomar cuidado para a gente não arrumar briga com quem não precisa. A gente precisa dos governadores junto com a gente. Acho que, com o tempo, ele vai entender que o papel de ministro é diferente do de deputado.

O senhor aparece como presidenciável no noticiário. Como vê isso? É claro que quando as pessoas lembram o seu nome, e vaidade todo mundo tem um pouco, a gente fica contente. Mas não acho que seja hora de discutir candidatura. A gente precisa primeiro discutir uma agenda para o país e só depois discutir nomes. Como não há, no momento, um nome natural no nosso campo político do centro, todos têm condições de serem candidatos. Qual a diferença de 1% para 5%? Zero. Agora, se não tiver uma convergência de ideias nos partidos, que represente um bom tempo de televisão para discutir e apresentar essas ideias, é uma besteira discutir nomes.

O DEM terá candidato próprio? Acho que o DEM tem que trabalhar para ter candidato próprio ao Planalto.

O senhor já disse que seria loucura disputar a Presidência. O que mudou? O DEM conseguiu ocupar o espaço na política. Se a gente conseguir, até abril, construir uma base de apoio forte na maioria dos estados brasileiros, podemos pensar em ter um candidato. O DEM projeta hoje ter a possibilidade de ter dez a doze candidatos a governador. Acho que só depois da janela de filiação, em março, saberemos os partidos que vão ter condição de liderar o processo eleitoral no país.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, pode ser o candidato do campo político do senhor? Essa questão do Meirelles não foi discutida na base. O Meirelles se lançou pré-candidato com o apoio do partido dele, o que é legítimo. Como também seria legítimo se o DEM tivesse feito a mesma coisa.

Além da previdência, quais são as outras prioridades da Câmara? A agenda da segurança pública. Constituímos um grupo de trabalho, com o ministro Alexandre Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que vai apresentar em fevereiro uma proposta de projeto de lei para melhorar a legislação de combate ao tráfico de drogas e armas. Vou pautar isso na Câmara. Também tem a discussão do Estatuto do Desarmamento. Acho que temos que ter regras, mas, depois das regras, acho que as pessoas têm que ter direito a sua arma. Esse é um debate que vamos enfrentar porque a sociedade está cobrando. E também temos de discutir a responsabilidade constitucional do governo federal em relação à segurança.

O senhor pautará a questão do foro privilegiado? Vamos tratar dessa questão. Pode ser votando o projeto que temos aqui na Casa ou chegando a uma solução como a que o Supremo já pensou, que, na minha opinião, é boa. (Em julgamento suspenso por um pedido de vista, a maioria dos ministros do STF defendeu a validade da prerrogativa apenas nos casos de crimes cometidos durante o mandato e relacionados ao exercício da atividade parlamentar)

Algum outro dispositivo pode ser aprimorado? O poder pessoal do ministro na nomeação dos servidores da área jurídica ou financeira precisa ser modificado. Esses cargos, que controlam dinheiro e procedimentos, deveriam estar mais sob o controle do Estado do que do universo político do governo.

Qual o peso de Lula na disputa presidencial? Lula é um ator importante, forte. Para a política, seria melhor que ele participasse da eleição. Mas essa questão não está nas mãos da política, está com o Judiciário. O Lula não ganha a eleição. Lula não tem mais condições de atrair alianças para ter tempo de TV. Vai ter que fazer uma campanha mais radicalizada e não vai conseguir caminhar para o centro como fez em 2002.

Esse raciocínio vale para Jair Bolsonaro? O Bolsonaro conseguiu atrair para ele o sentimento de insatisfação de parte importante da sociedade. Ele conseguiu usar as redes sociais como nenhum político conseguiu no Brasil. Agora, falta a ele a capacidade de organizar o apoio político de partidos. Ele faz tudo muito sozinho e acaba atrapalhando. Mas é a polarização que faz dele um ator relevante. Ele precisa radicalizar para ser visto e chamar a atenção, mas isso não convence a maioria do país.