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Projeto torna Caminhos do Peabiru em Patrimônio Imaterial do Paraná

Ramais abertos pelos guaranis foram usados por Cabeza de Vaca que descobriu as Cataratas do Iguaçu em 1542

Os ramais da rota transcontinental Caminhos do Peabiru, no trecho simbólico principal e ramais secundários compreendidos no Estado, serão declarados Patrimônio de Natureza Cultural Imaterial Paranaense. É o que prevê um projeto de lei de iniciativa do deputado Márcio Nunes, líder do PSD na Assembleia Legislativa. O percurso histórico, criado pelos índios guaranis, integra a Rede Nacional de Trilhas de Longo Curso e Conectividade (Rede Trilhas) do governo federal.

A lei abrange todos os ramais, incluindo a ligação do Parque Nacional do Iguaçu, no Oeste/Sudoeste, ao Litoral e Noroeste (região de Campo Mourão), em atendimento ao disposto nos artigos 215 e 216 da Constituição Federal e artigo 191 da Constituição Estadual. O debate sobre a conservação do patrimônio imaterial mostra que os processos de produção cultural são tão importantes como o patrimônio material, diz Márcio Nunes.

“Este torna-se uma categoria social quase vazia quando é extirpada de seus valores culturais imateriais”, afirma. Os aspectos imateriais da cultura são decisivos para a manutenção da identidade dos povos frente às rápidas mudanças impostas pelo mundo. “As manifestações que possuem relevância para a memória, a identidade e a formação da sociedade paranaense podem ser registradas como Patrimônio Cultural Imaterial”, ressalta o parlamentar.

O projeto é inspirado nas pesquisas do Núcleo de Estudos e Pesquisas Sobre o Caminho de Peabiru na região de Campo Mourão (Necapecam). O estudo foi coordenado pela Professora Sinclair Pozza Casemiro e na monografia “O Caminho de Peabiru: Implicações em seu tombamento como Patrimônio Material e Imaterial”, do acadêmico Arléto Pereira Rocha.

O documento já foi apresentado na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e em matérias da revista Cadernos da Trilha, publicada com apoio da Itaipu Binacional e tratando do famoso Caminho de Peabiru, pelas pesquisadoras e editoras da revista, Sinclair Pozza Casemiro e Rosana Bond. Além da leitura da obra de Wille Bathke Junior, sobre o Sagrado Caminho de Thomé e publicações do historiador Jair Elias dos Santos Júnior.

Legislação
A Constituição de 1988, no artigo 216, reconhece a dupla natureza material e imaterial dos bens culturais, estabelecendo tanto o tombamento quanto o registro. Como o tombamento pode ser considerado um processo inadequado para a preservação de práticas culturais intangíveis e dinâmicas, necessita-se de instrumentos de identificação, valorização e apoio que favoreçam a sua permanência.

“Este projeto pretende estimular o resgate e o mapeamento da trilha, no trecho que compreende o Paraná, por meio de pesquisas, vestígios lícitos e da memória coletiva”, ressalta Márcio Nunes. Aproveitando o caminho, também teriam passado por ele os conquistadores espanhóis, os jesuítas das reduções, os bandeirantes paulistas nos séculos XVI e XVII e desbravadores do final do século XIX.

A palavra Peabiru é de origem tupi-guarani e pode significar caminho forrado, caminho pisado, caminho sem ervas, caminho que leva ao céu. “Para os descentes guaranis é o caminho de busca da Terra sem Mal. Pode ter sido, porém, um caminho de comércio para o povo inca”, lembra o deputado. As características da abertura de mais de um metro de largura dão a entender que a origem está mais ligada ao povo guarani.

Caminhos, história e seus personagens

O Peabiru tem cerca de quatro mil quilômetros ligando o Atlântico ao Pacífico. Os primeiros europeus que chegaram à Bacia do Prata fizeram uso desses caminhos e os registraram em suas crônicas.

Três figuras se destacam nessas aventuras. Aleixo Garcia, náufrago da expedição de Juan Díaz de Solís, que foi acolhido pelos guaranis e durante a convivência, ouviu falar das minas de prata e do rei Branco. Partiu com eles do atlântico (Santa Catarina) até Potosí.

Pouco mais tarde, em 1541, Alvar Nuñez Cabeza de Vaca percorreu o caminho entre Santa Catarina e Assunção, guiado pelos guaranis. No percurso, em 1542, foi o primeiro homem branco a escrever sobre as Cataratas do Iguaçu.

Ulrich Schmidl, em 1567, fez o trajeto inverso, saindo da capital paraguaia em direção ao litoral de São Paulo pelas trilhas indígenas. Os três não seguiram o mesmo caminho, pois havia diferentes rotas. No Paraná, os ramais passavam por Francisco Beltrão, Maringá, Campo Mourão, Foz do Iguaçu e o município Peabiru.

Registro
O geólogo alemão Reinhard Maack criou, em 1952, o primeiro mapa do Paraná a mostrar o Caminho do Peabiru. O trabalho teve por base o manuscrito de outro alemão, Ulrich Schimidel, que percorreu o caminho em 1553.

O ramal que liga o Parque Iguaçu ao litoral, passou a integrar, em 19 de outubro passado, a Rede Nacional de Trilhas de Longo Curso e Conectividade, formada por quatro grandes corredores interligando paisagens naturais, por onde milhões de pessoas poderão transitar. Caminhos do Peabiru é uma das trilhas consideradas prontas.

Foto legenda (marcio nunes peabiru)
Márcio Nunes: “As manifestações que possuem relevância para a memória, a identidade e a formação da sociedade paranaense podem ser registradas como Patrimônio Cultural Imaterial”

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