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Política e economia vivem paradoxo

Economia emite sinais crescentes de retomada, enquanto continuam as turbulências em torno do Planalto, que dificultam a reforma crucial da Previdência

Como dois universos distantes anos-luz entre si, a política e a economia brasileiras vivem realidades paralelas. Na política, persiste a crise, mesmo que haja o entendimento, pelo menos por enquanto, de que, por diversas circunstâncias, a segunda denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o presidente Michel Temer teria um poder destrutivo menor que a primeira.

Se na primeira, a acusação de corrupção passiva foi barrada na Câmara, mesmo com depoimento e gravação de Joesley Batista, e ainda o vídeo de Rocha Loures às pressas com uma mala cheia de dinheiro — supostamente para o presidente —, aposta-se que nada mais terá maior impacto sobre os deputados. Mesmo que a acusação de participar do “quadrilhão do PMDB”, incluída na segunda denúncia, seja forte.

Mas a crise política se perpetua, até porque o governo é fraco. E de onde pouco ou nada se esperava, o front econômico, passam a se multiplicar bons indicadores. Nada ainda que reverta as abissais perdas acumuladas na recessão recorde na faixa dos 8%, de 2015 e 2016, mas há diversos sinais de retomada abrangente do crescimento. A questão é o fôlego deste movimento.

Mesmo com o terreno instável na política, obstáculo a que a reforma da Previdência volte a tramitar na Câmara, a equipe econômica conseguiu criar condições importantes para a economia dar sinais de vida: inflação baixa, juros em queda recorde e, tanto quanto isso, a expectativa de que tudo continuará assim até onde a vista enxerga.

O relatório Focus, feito semanalmente pelo Banco Central, com informações de analistas do mercado, aponta para esta hipótese. O último divulgado indicava um crescimento de 0,6% do PIB este ano, e de 2,20% em 2018, com uma inflação nas rédeas: 3,08% este ano e 4,12% em 2018, abaixo, portanto, da meta de 4,5%. E sem que sejam cometidas aqueles heterodoxias lulopetistas pré-eleitorais que resultaram em tarifaço, alta do dólar e dos juros.

A característica de grande abrangência deste início de ciclo de expansão está expressa na revelação feita ontem de que, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), houve em agosto a criação líquida de 35.457 empregos formais no país. É o melhor resultado para este mês desde 2014, quando a economia estava sendo anabolizada para Dilma ser reeleita. O número total de desempregados, calculado pelo IBGE, já bateu no teto de 14,2 milhões e caiu para pouco mais de 13 milhões.

Confirmam, ainda, a recuperação ampla dados do recolhimento de impostos e contribuições, termômetro de múltiplos setores: em agosto, a receita da Previdência subiu 4,4% em relação ao mesmo mês de 2016; o imposto de renda das pessoas jurídicas e a contribuição sobre o lucro líquido, 24,6%; o imposto das pessoas físicas, 8,5% e o PIS-Pasep e Cofins, 11,1%.

Os números animam, mas não se deve desconsiderar a paralisação das reformas, com destaque para a Previdência. Sem que haja um horizonte claro em que se anteveja o equilíbrio das contas públicas, para que voltem os investimentos, esta retomada feita à base da ocupação de uma grande capacidade instalada ociosa não terá sustentação.

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