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Na República dos encontros casuais, não convidem Dilma e Lula para a mesma mesa

Na República dos encontros casuais, não convidem Dilma e Lula para a mesma mesa

Dilma não perdoa Lula por ter dito que ela, ele e o PT estão no “volume morto”. Nem a oposição ousou fazer uma crítica tão dura

Ricardo Noblat

Em seu blog no portal G1, o colega Gerson Camarotti registrou a passagem do primeiro mês desde a última vez em que se falaram a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula.

Foi durante o congresso do PT realizado em Salvador. Na ocasião, segundo Camarotti, Lula sugeriu a Dilma que não vetasse o fim do fator previdenciário aprovado pelo Congresso.

Lula argumentou que estava mais do que na hora de o governo fazer um gesto para os trabalhadores e sua base social como um todo, deprimida desde o início do ajuste fiscal.

Dilma discordou. Disse que, caso não vetasse, o mercado financeiro ficaria inseguro e a política econômica perderia sua credibilidade. Ela e Lula se desentenderam feio. E nunca mais se falaram.

Lula joga para a plateia. Aconselhou Dilma a fazer o ajuste fiscal, mas ninguém mais se lembra disso. Se dependesse dele, o presidente do Bradesco ocuparia o lugar que é hoje de Joaquim Levy.

Dilma não perdoa Lula por ter dito que ela, ele e o PT estão no “volume morto”. Nem a oposição ousou fazer uma crítica tão dura. Usando uma expressão daquelas que colam de tão felizes que são.

A presidente não quer mais depender de Lula para manter-se no cargo. Acerte ou faça besteira, deseja andar com as próprias pernas. Sente-se capaz disso.

Não consultou ninguém, por exemplo, para conceder a entrevista à Folha de S. Paulo onde disse e repetiu que não será derrubada. A entrevista do “não caio, não caio, não caio”. Acha que fez sucesso.

Foi dela a ideia arriscada de escalar a passarela em forma de rede no pavilhão de exposição do Brasil, em Milão. Passou no teste. Balançou, balançou, teve que ser ajudada, mas não caiu.

Não pensou duas vezes quando José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, sugeriu que ela se reunisse às escondidas no Porto, cidade portuguesa, com o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Ricardo Lewandowski. Concordou na hora.

Cardozo jura por todos os santos que ela e Lewandowski só conversaram sobre o reajuste dos servidores do Judiciário. Lorota. Discutiram o eventual impeachment de Dilma e o que ele, ministro do Supremo, poderia fazer por ela entre seus pares.

Um dos cabos eleitorais da indicação de Lewandowski para o Supremo foi dona Marisa, mulher de Lula, de cuja família o ministro sempre foi amigo em São Bernardo do Campo, São Paulo.

No julgamento do mensalão, Lewandowski votou para absolver ou reduzir as penas dos mensaleiros. Fez par com o ministro Dias Tóffoli, ex-advogado do PT, e ex-assessor do então ministro José Dirceu.

Cardoso qualificou de “casual” o encontro de Lewandowski com Dilma em Portugal. Como “casual” foram os encontros que ele teve com advogados de empreiteiros presos na Operação Lava Jato e o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot.