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A CPI da UNE precisa acontecer

 

Que entidade privada recebeu tanto dinheiro público, prestou contas de forma tão desleixada, levantou tantas suspeitas, sem nunca ter sido investigada com algum rigor?

Filipe Barros

O que você faria se descobrisse que pagou impostos ao governo durante anos e a quantia arrecadada foi gasta, em pouquíssimo tempo, com uísque, vodca, cachaça e animadas viagens de jovens que vão de uma cidade a outra para queimar pneus em vias públicas, pichar edifícios e defender ditaduras estrangeiras? Indignante, não é? Pois essa é exatamente a relação que cada contribuinte brasileiro tem com a União Nacional dos Estudantes (UNE), ao menos desde que o PT assumiu o poder, em 2003.

É uma triste verdade, contudo, o fato de que tanto a fama de desordeira da UNE quanto a irresponsabilidade com o dinheiro público não são novidades no Brasil. Espantoso mesmo é como uma instituição tão explicitamente aparelhada pelo petismo e agregados, e tão beneficiada por repasses do governo federal, não foi devidamente investigada até hoje, quase três anos após o impeachment de Dilma Rousseff.

Desde 2011, o Tribunal de Contas da União (TCU) tornou pública sua suspeita sobre os convênios firmados entre UNE e governo federal, devido à quantidade de notas frias, com gastos expressivos identificados simplesmente como “despesas”. Em outros casos, segundo reportagens da época, não houve nem sequer o pudor em mascarar o uso inapropriado do dinheiro, admitindo-se espontaneamente a compra de bebidas alcoólicas e outros itens pouco condizentes com a missão expressa no estatuto da instituição, como a compra de búzios e velas.

A lista de irregularidades, é claro, não para por aí. Nunca foi devidamente explicado, por exemplo, como a entidade usou os R$ 30 milhões recebidos do ex-presidente Lula para a construção da nova sede da entidade no Rio de Janeiro, projeto que jamais ficou pronto. Nessa quantia, aliás, não são considerados os outros R$ 15,3 milhões recebidos do governo federal desde 2003 para a organização de “caravanas, atividades culturais e artísticas, shows, jogos, projetos, congressos e encontros de mulheres estudantes”, conforme revelado pelo site O Antagonista, em 2016.

Que outra entidade privada recebeu tanto dinheiro público, prestou contas de forma tão desleixada, levantou tantas suspeitas, sem nunca ter sido nem sequer investigada com um pouco mais de rigor?

Há pelo menos quatro anos diferentes deputados tentaram instalar na Câmara uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar esses abundantes sinais de abuso. Nenhum obteve sucesso. Em parte, devido à força dos antigos mandantes do Planalto, mas também para atender ao interesse de partidos diretamente beneficiados pela escancarada militância político-partidária da entidade.

As eleições de outubro, no entanto, mudaram como nunca o cenário político, especialmente no Legislativo. Grupos que eram influentes havia poucos meses foram reduzidos pelos eleitores ao tamanho de nanicos, e aqueles que se esforçaram tanto para terem a imagem vinculada às gestões de Lula e Dilma foram os mais castigados pelas urnas.

Os motivos que levaram ao arquivamento das tentativas anteriores não valem mais, e os líderes dessa nova busca por justiça e verdade não são os mesmos. O esclarecimento de suspeitas e a punição de culpados são uma exigência social cada vez mais intensa e fazem parte de um processo transformador que não pode ser parado. A UNE precisa ser investigada.

Filipe Barros é deputado federal (PSL-PR).

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