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A guerra acabou

É preciso pôr fim à propaganda eleitoral e trabalhar

Carlos Brickmann

Está difícil perceber, mas a campanha eleitoral já terminou. O PT está na oposição; Bolsonaro é o presidente. Os dois lados fariam bem se, agora, se dedicassem à tarefa que os eleitores lhes indicaram.

Nossa bandeira é um símbolo da pátria e não deve ser banalizada. Não façamos com nossa bandeira o que o futebol fez com nosso hino: de tão repetido, o público já não canta junto, não se emociona, nem sequer faz silêncio.

Campanha é campanha, e os candidatos tentam provar que são gente como a gente. Não são: têm diferenças que nos levam a escolhê-los. O lema “um brasileiro igualzinho a você” não funcionou por esse motivo: se é para escolher alguém igualzinho a mim, voto em mim, e a eleição fica empatada.

Foi bonito ver a esposa de Bolsonaro discursando em Libras, a Língua Brasileira de Sinais, para os surdos? Sim –emocionante. Mas não é tema para debater dias e dias. Bolsonaro assina documentos com caneta Bic? Não tem importância: importa, isso sim, o conteúdo dos documentos. São medidas boas, corretas? Beleza –assinadas com Bic, Parker ou Montblanc.

Michele tem costureira boa, não gasta com grifes? Seu marido gosta de arroz, feijão e pastel? Eu também –e daí? Isso nada diz sobre sua competência. E alguém acredita que Bolsonaro lave roupa?

A propaganda (de ambos os lados) já encheu. Chega de notícias que surgem só para gerar fotos e manchetes. O governador do Rio, Wilson Witzel, disse que Bolsonaro vai propor lei que iguale terroristas e traficantes e autorize alvejá-los se portarem armas de guerra.

É falso: como terrorismo não está definido em lei, não adianta igualar traficantes a terroristas. Seria preciso antes definir o crime de terrorismo e suas penas. E atirar em quem porta publicamente armas de combate não será a implantação da pena de morte, vedada por nossas leis?

Por melhor que seja o governo Bolsonaro, terá oposição. Faz parte da democracia. O comunismo não deu certo em potências como União Soviética e Alemanha Oriental, mas ainda existe. No Brasil continuará havendo comunismo e comunistas, mesmo que todos os projetos do atual governo deem certo.

Se o caro leitor acha absurda a sobrevivência do comunismo após a queda do Muro de Berlim, lembre-se de que há até hoje adeptos da tese de que d. Sebastião, rei de Portugal derrotado e morto em batalha na África, em 1578, na verdade não morreu e voltará em triunfo para reassumir o trono de Portugal, extinto há 108 anos.

Há um filme, “A Facada no Mito”, que lança dúvidas sobre o atentado a Bolsonaro. De quem é o filme? Não se sabe. Qual a produtora? Não se sabe. Há indícios de que um canal de YouTube foi criado só para divulgá-lo. E há quem o recomende.

Um parlamentar quer inserir no ensino público a biografia elogiosa de um torturador, Brilhante Ustra. O que pretende, além de provar que não sabe o que é ensinar sem doutrinar? Eliminar os livros que, a seu ver, inoculam o veneno do comunismo nos estudantes, e trocá-los por outros que fazem a mesma coisa, mas louvando bárbaros do outro lado?

É demais. A guerra acabou. Poupem-nos, senhores políticos. Que nos permitam um tempo de descanso de propaganda eleitoral.

Vamos trabalhar –se houver suficientes empregos. E vamos viver.

Carlos Brickmann
Jornalista, diretor da Brickmann&Associados Comunicação e do site Chumbo Gordo; ex-redator, editor e repórter especial da Folha e ex-editor-responsável e editor-chefe da extinta Folha da Tarde

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https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2019/01/a-guerra-acabou.shtml