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Surpreendente? É evidente que não!

FILE PHOTO: A combination photo shows presidential candidates Jair Bolsonaro (L) in Brasilia, Brazil September 4, 2018 and Fernando Haddad in Curitiba, Brazil September 24, 2018. REUTERS/Adriano Machado/Rodolfo Buhrer/File Photos

Os candidatos mais odiados são os mais votados

Lucy Nassar Ferreira Leite

É evidente que o esvaziamento da cultura do conhecimento originou o vazio nesta eleição. Ideias vagas em temas cruciais geraram uma disputa niilista e nos deixou sem opção.

A comunicação rebaixou a massa consumidora ao alcance da sua maximização. Facilmente arrebatada pelo ruído, expressa a sua rude opinião.

A ambição é vital em toda evolução, mas a ganância só sobrevive na ignorância. A gana de poder atropela a ambição construtiva, carrega ressentimentos e fatalmente é degenerativa. Em demagogos, ditadores, e agora o risco de um “déspota” não esclarecido.

A idolatria do eleitor se espelha em seu candidato. O autoritarismo, o preconceito e a mediocridade são faces refletidas. É previsível em eleitores adestrados a repulsa a outras opiniões.

É possível a democracia em uma sociedade cada vez mais materialista e egoísta? O projeto educacional, sempre adiado, culminou nesta contradição: os candidatos mais odiados são os mais bem colocados?

Nessa veneração, um lado dissimula o conhecimento e o outro despreza o conhecimento. Radicalizam-se num círculo vicioso, narcisista, e são inimigos de toda a nação.

De um lado é maquinal um partido ardiloso, que destruiu o país, querer se perpetuar no poder. Do outro, o seu “oposto” (?), um megalomaníaco, totalmente despreparado, faz cara de bravo não pela corrupção: seu mau humor é não estar ainda no posto máximo da nação.

Um, oportunista, aceita ser “laranja” do capital eleitoral de outrem. Já provou a sua autoridade. O outro, falsamente nacionalista –se o fosse, teria escrúpulos e deixaria a função de governar um gigante país a quem é qualificado.

Num lado, a Bolsa, que mais nos prejudicou, se progressista não se reproduziria indefinidamente. Noutro, o bolso, dos materialistas unidos na ânsia de acumular bens para as suas vaidades do que efetivamente prestar a seu país um serviço de qualidade.

Num lado, a simbiose desmedida de apropriação do Estado. Noutro, a simbiose familiar na reprodução política da função. Ambos se valem de oportunismos e não de aptidões.

Num país sem projetos, a proliferação de partidos é um reflexo. Nem o partido equivocado de um nem o outro, “revoltado”, serviram para aprovarem reformas urgentes. E correm alterando e remendando suas propostas porque de fato não as têm; só miram a vitória, o poder.

Um complexo país não pode ser interpretado de maneira tão rasteira, interesseira, aviltante e repugnante. O Brasil merece respeito! Um preso chefia de um lado mais um assalto, e do outro, um leso comanda um vil retrocesso?

Que democracia é esta que nos obriga a votar? Que democracia é esta que arrisca degringolar?

Só a seriedade na educação transformará um país de oportunistas em reais oportunidades de vida. Eliminará a credulidade e nos trará credibilidade. Isso, sim, seria bem surpreendente!

Lucy Nassar Ferreira Leite, arquiteta e urbanista formada pela USP São Carlos

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https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2018/10/surpreendente-e-evidente-que-nao.shtml