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“Vamos ver se vai vencer o dinheiro ou a ética”, diz Jorge Bernardi candidato ao governo do Paraná

Narley Resende, Bem Paraná

Vereador de Curitiba por sete mandatos, professor de Gestão Pública, Jorge Bernardi (REDE) é o candidato da ex-ministra Marina Silva (REDE) ao governo do Estado. No período de convenções Bernardi conseguiu montar uma chapa com três partidos (REDE/PPL/DC), um luxo que orgulha o candidato. “Todos ficha limpa”, garante.

Com isso, Bernardi nega ser apenas um “palanque” para a presidenciável da Rede no Paraná. Ele terá 10 segundos em cada programa eleitoral de 9 minutos. A chapa também não dá a Bernardi força política local nos 399 municípios do Paraná. A chapa tem apenas 2 prefeitos e 47 vereadores. Apesar disso, ele aposta na força da internet para passar a ser conhecido do eleitorado. “Mesmo sem fundo eleitoral, estamos investindo nisso, de forma ainda amadora, mas nossas ideias estão lá”, afirma.

Nos 30 anos em que passou na Câmara Municipal de Curitiba, Bernardi afirma que esteve na maior parte do tempo na oposição, foram 16 anos, contra 14 na situação. O destaque mais recente de seus mandatos foi como presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Transporte Coletivo. Bernardi começou o mandato como integrante da base do prefeito Gustavo Fruet (PDT) e terminou como membro da oposição, já na Rede. Na eleição, integrou a chapa do candidato Requião Filho (MDB) como candidato a vice prefeito. Derrotado, Bernardi já estava fora da vida pública, admitindo uma aposentadoria. Agora, porém, disse ter sido convocado por correligionários.

Bem Paraná – O senhor considera sua candidatura viável ou um palanque da Rede para Marina Silva no Paraná?
Jorge Bernardi – Esta é uma candidatura para valer. Nós formamos uma coligação com três partidos ficha limpa, não só seus membros, tanto a Rede quanto o Partido Pátria Livre, quanto a Democracia Cristã. Temos 54 candidatos a deputados estaduais, 45 federais, 2 senadores, um dos quais Flavio Arns, ex-vice-governador e ex-senador, e ex-deputado. Temos o Professor Luiz Adão, presidente da Democracia Cristã, fundador da faculdade de Campo Largo, de Direito, Administração e Economia. Se a população do Paraná busca candidatos que têm competência e sejam ficha limpa e que apresentam uma proposta, nós somos essa alternativa. Estamos fazendo esse plano de governo que são 18 eixos estratégicos para um Paraná sustentável desde novembro do ano passado. Foram dezenas de reuniões e no plano abordamos todos os grandes problemas do Paraná. Nossa coligação se chama ‘do bem e da verdade para mudar o Paraná”. Esse movimento se inspira no Movimento Paranista, que aconteceu no início do século XX, durou duas décadas, logo depois da Guerra do Contestado, e objetivava dar ao Paraná uma identidade. Transformar o Paraná, que era uma das menores unidades da federação em termos populacionais e de representação política, em um grande Estado. Estamos resgatando esses valores. Nossa meta estratégica é que em 10 anos nos tornemos a terceira economia do Brasil.

BP – O senhor foi vereador por sete mandatos, não disputou a última eleição e estava fora da vida pública. Era projeto pessoal do senhor se tornar candidato ao governo?
Bernardi – Eu tive sete mandatos, 30 anos como vereador e eu tinha decidido não disputar a eleição de vereador. Depois fui convocado para ser candidato primeiro a prefeito, mas em função de o partido estar se estruturando ainda surgiu a oportunidade de fazer uma coligação e fui candidato a vice (de Requião Filho, do MDB à prefeitura de Curitiba). Agora (ao governo) não estava nos meus planos. Sou muito sincero. Quando me convidaram eu até pensei “querem que eu dê um passo maior que as pernas”. Eu perguntei para os companheiros da Rede: “por que vocês querem que eu seja candidato ao governo do Estado?”. Eles disseram: “primeiro porque nós confiamos em você. Segundo, porque consideramos você preparado. Eu sou doutor em Gestão Urbana, já formei 22 mil gestores públicos em todo o Brasil, tenho três livros escritos nessa área, com tiragem superior a 50 mil exemplares, então eu influencio academicamente e na administração pública em várias cidades e estados brasileiros. E, em terceiro, eles disseram que não estavam satisfeitos com os outros candidatos. Se eu não fosse um candidato viável não teria sido assediado por quatro candidatos que de todas as formas tentaram fazer com que eu desistisse.

BP – Quais candidatos?
Bernardi Começou com Ratinho (Jr). Tentaram, tentaram levar nossa chapa pra lá. Depois, Osmar Dias (PDT) mandou emissários para que eu renunciasse e apoiasse ele. Eu fui, por oito anos, suplente do Osmar. Caminhei 15 anos com ele. Fiquei 28 anos no PDT. Posteriormente foi o governador ali, o governador oficial, Ricardo Barros (marido da governadora Cida Borghetti), ele ligou. Esse não falou comigo, mas ligou para um dos nossos aliados, o professor Luis Adão. Ofereceu tudo para melar nossa coligação. O último de todos foi João Arruda (MDB). Na terça-feira (31) me ligou seis e meia e disse: ‘Jorge, tomei a decisão agora de ser candidato a governador. Você vem comigo?’. E ele disse uma palavra que deu o gancho. ‘Eu vou para o sacrifício’. Eu digo ‘não, você não precisa ir para o sacrifício. Você vem me apoiar e aí se elege’. Ele meio que balançou. Na quinta-feira (2), ele me liga desesperado de Brasília dizendo que precisava conversar comigo. Ele foi lá na minha casa, umas nove e meia da noite, e disse ‘não dá’ e tal. Eles tem tempo de televisão, fundo partidário, tem tudo aquilo que nós não temos. Nós temos a integridade, princípios, projetos. Eles têm o dinheiro, eles têm a Lava Jato, eles têm tudo que o povo não quer. Agora vamos ver se vai vencer a corrupção, o dinheiro e a Lava Jato ou a ética, os princípios e uma proposta de administração. Pro João eu disse que num segundo turno nós podemos conversar, se nós formos você vai analisar a nossa proposta e se você for nós vamos analisar a sua.

Bem Paraná – Quem costurou a aliança com o PPL e o DC?
Jorge Bernardi – O partido, mas o primeiro contato foi comigo. Porque o PPL, por exemplo, era um partido que já estava alinhavado com Osmar Dias (PDT). Aí eu conheci o presidente do PPL, o deputado Marcio Pacheco, num evento da Polícia Federal, ele começou a conversar e disse que o pessoal só falava bem de mim. O primeiro partido que me apoiou foi a Democracia Cristã. O presidente Luiz Adão, quando eu fui secretário do Trabalho, ele era presidente do Conselho Municipal do Trabalho. Aí fiz amizade com ele. Ele veio um dia e disse que não estava satisfeito com os outros candidatos. Disse “olha, vim aqui para manifestar o apoio do nosso partido a você”. Peguei o Luiz Adão e levei lá no deputado Marcio Pacheco (PPL). Quando ele viu que eu tinha mais um partido, ele disse “então vamos sentar e fazer as composições”. Eu ofereci para a Democracia Cristã uma das vagas ao Senado, ficou para o Doutor Luiz Adão. Meu vice é do PPL, advogado, mestre do Direito Financeiro, de Cascavel, tem um grande escritório de advocacia, que é o doutor Juliano Murbach. Há um tempo atrás fui para Cascavel, liguei para todos os jornais, e ninguém quis nem saber. Agora, no dia 26, nós fomos para lá e colocaram um tapete vermelho para nós. Ter um vice de Cascavel gerou um clima favorável em Cascavel.

BP – O apoio de Marina Silva, da Rede, a Aécio Neves (PSDB) no segundo turno da eleição presidencial de 2014 não compromete o discurso do partido de representante da “nova política”?
Bernardi – Na verdade, quem apoiou Aecio Neves foi o PSB. Era o partido em que a Marina estava filiada. Ela já fez uma autocrítica, dizendo que foi um equívoco eles terem apoiado Aecio Neves. Se eles soubessem de todo o histórico, se observar em 2014 Marina foi vítima das fake news. O próprio PT e o próprio PSDB desconstruíram ela. Aquela propaganda do Banco Central, que tirava comida das crianças na mesa e tal, aquilo acabou com ela. O PSDB também bateu firme. Os dois, PT e PSDB, não queriam Marina no segundo turno. Se ela fosse certamente seria presidente e a história seria outra. Em todos os partidos tem gente boa e gente que não presta. Isso na política e na sociedade. Aqui no Paraná vão dizer que nós ainda somos um partido em formação, mas nós vamos governar com os melhores. Tem que ter as três características básicas. Ética: não pode ter o nome sujo, não pode ter qualquer dúvida sobre a idoneidade. A segunda, tem que ter capacidade técnica e capacidade administrativa. Eu quando fui presidente da Câmara reduzi os gastos na Câmara, que na época eram 6,4% do orçamento de Curitiba, para 1,8%, em dois anos. Nós acabamos com os veículos oficiais, nenhum vereador tinha carro. Eu dispensei na época 154 funcionários. Não conseguia nem sair na rua. ‘Ah, você dispensou minha filha’. Tem um determinado jornal, que eu dispensei um filho de um redator lá na área da política e fiquei 10 anos sem aparecer no jornal. Dispensei porque o cara não aparecia para trabalhar. Naquela época, 1989, acabamos com a aposentadoria dos vereadores.

BP – O senhor como vereador transitou mais na situação?
Bernardi – Pelo contrário, dos 30 anos fiquei 14 anos na situação e 16 anos na oposição. E pelo menos duas vezes eu saída situação e fui para a oposição. A primeira vez foi quando Cássio Taniguchi era prefeito. Ele saiu do PDT e eu fui para a oposição. E a segunda vez agora, com Gustavo Fruet, eu estava na situação e quando vi que ele não estava cumprindo com aquilo – eu e o Professor Picler fomos os responsáveis por levar o Gustavo (para a prefeitura) – e quando eu vi que ele estava com a mesma prática dos outros eu criei uma dissidência.

‘Fruet não enfretou a máfia do transporte’

Bem Paraná – Além do senhor ter mudado de partido, do PDT para a Rede, qual o ponto central que o fez mudar para a oposição?
Bernardi – O ponto principal foi o enfrentamento que eu tive com o transporte coletivo, com a máfia. Eu achei que ele (Fruet) estava disposto a enfrentar a máfia. Não enfrentou. Como o Greca, que agora está aliado com eles. Naquele momento, eu fiquei sozinho, fui ameaçado, tive que andar com segurança. E quando nós fizemos o relatório final e fomos levar lá (na prefeitura) ele (Fruet) não deixou tirar fotografia. Demonstrou que não tinha coragem para enfrentar os poderosos. Nós levamos ao Ministério Público. Logo depois saiu a Lava Jato. Agora, cinco anos depois, 14 daqueles lá foram indiciados. Nós propusemos o indiciamento demais, de quase 80 pessoas. O Ministério Público daqui arquivou. Mas o MP de lá de Guarapuava pegou o processo. E aí, com a delação premiada, denunciou lá 14 pessoas.

BP- Como governador, o senhor vai manter o subsídio do governo para pagar a integração do transporte de Curitiba com o metropolitano?
Jorge Bernardi – Pelo contrário. Vamos tirar todas as gorduras que têm na tarifa. E vamos fazer a licitação. Não a licitação fraudulenta como essa que houve aqui em Curitiba. O próprio Ministério Público declarou fraudulenta. Eu não posso (como governador) interferir em Curitiba, mas a região metropolitana vamos fazer licitação e abrir para empresas do Brasil todo e até do exterior. A mesma coisa vamos fazer com o pedágio. Estou pensando em ter um braço empreendedor do Estado. Nós temos mais de R$ 200 bilhões parados de dívida ativa. Temos que por esse dinheiro, de tributos que as pessoas devem para o Estado, para circular. Em Santa Catarina já estão fazendo isso. Ele criou a Santa Catarina SC Participações que já está administrando o Porto de Imbituva, que era insignificante e hoje é o terceiro do Sul do Brasil.

‘Quem cassou Dilma não tinha legitimidade’

BP – Como o senhor vê todo o processo que culminou no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a postura da Rede nesse processo? O senhor concorda ou discorda da avaliação de que houve um golpe?
Bernardi Na minha visão, a chapa Dilma/Temer deveria ter sido cassada pelo TSE. Ela (minha visão) perdeu por um voto, do senhor Gilmar Mendes. O que nós estamos vivendo é uma Caquistocracia, que é o governo dos piores indivíduos. Mais de 200 deputados e senadores envolvidos em todo tipo de falcatrua. Um presidente e mais oito ministros. Isso tinha que ter sido passado a limpo. A crise já tem quatro anos e não está passando e vamos ter uma eleição com um candidato preso. Pela primeira vez um presidente em exercício que não vai ser candidato à reeleição. Estudos no futuro vão dizer se foi golpe ou não foi. Eu particularmente acho que o processo seguiu os trâmites. Mas os que cassaram não tinham legitimidade para cassar, eram tão corruptos quanto aos que estavam lá. Por outro lado, a presidenta Dilma, até provem o contrário, é uma pessoa honesta. Foi um processo que não se resolveu até hoje e não sei se vai se resolver na eleição. No meu ponto de vista, todos os que cassaram ela também deveriam ser cassados. É complexo.

BP- Assim como outros partidos de oposição, a Rede tem pautado seu discurso pela defesa do combate à corrupção. Mas em negociação de delação, o dono da construtora OAS afirma que o partido pediu doação em caixa dois de campanha da Marina de 2010.
Bernardi – Em primeiro lugar, Marina não está respondendo a absolutamente nada. Pelas informações que eu tenho foi uma doação feita lá no Rio de Janeiro. Para um candidato de lá, que era na época do PV, que não envolveu a figura da Marina. Quanto a Eduardo Campos, eu li tudo isso (denúncias de caixa 2 do PSB), foi uma coisa assim triste, se efetivamente aconteceu. Marina era vice dele. Depois que ela assumiu o comando da campanha ela tirou todas as pessoas que estavam no comando da campanha do Eduardo Campos e colocou pessoas da confiança dela. Teoricamente, o correto seria o PSB estar apoiando ela hoje. Veja como é o PSB no Paraná.

Reajuste deve ser pago com responsabilidade

Bem Paraná – O atual governo do Estado congelou os salários dos servidores por três anos, até 2019. Eleito, mantém essa política ou pretende revê-la?
Jorge Bernardi – Hoje já são pouco mais de 12% de defasagem. Vai ser pago. Só que não posso dizer que vou pagar tudo no primeiro ano, seria uma irresponsabilidade. Falei em enxugar a máquina pública e uma parte disse vai ser para repor. Temos também que cobrar dos que estão devendo para o Estado, que sonegaram, temos que ser duros nisso.

BP – O atual governo também propôs o fim da contribuição patronal para o Paraná Previdência. Manteria isso ou não?
Bernardi – Isso tem que ser estudado. Mas isso é uma irresponsabilidade (o patronal não pagar). Sempre tem a parte patronal e a parte do empregado. Tem que deixar num certo limite. Claro que tem que fazer uma reforma da previdência de maneira geral, porque felizmente a população está vivendo mais.

BP – A Rede tem pouco tempo na propaganda eleitoral de rádio e TV, poucos recursos do fundo partidário e eleitoral para a campanha, nenhum deputado no Paraná e poucos prefeitos, vereadores. Quais as suas reais chances na disputa pelo governo?
Bernardi – A minha força são as ideias que defendemos. Hoje quase 50% dos eleitores vão buscar informações nas redes sociais. Tenho certeza que quando as pessoas conhecerem as nossas ideias vão aderir ao nosso programa.|