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Propina de R$ 6 milhões é registrada em ata do conselho dos Correios

Um registro de pedido de propina consta de uma ata do Conselho de Administração dos Correios. O documento – ao qual O GLOBO teve acesso – revela que o interventor do Postalis (fundo de pensão dos carteiros) foi procurado por advogados para favorecer um banco americano. Segundo a ata, Walter de Carvalho Parente informou aos conselheiros que teria recebido a proposta de levar R$ 6 milhões para fechar um acordo com o BNY Mellon, instituição processada pelo fundo por perdas bilionárias em escândalos do passado. As informações são d’O Globo.

“(O interventor) menciona gravidade da situação enfrentada, citando inclusive ter recebido uma oferta de pagamento de R$ 6 milhões, por parte de advogados representantes do fundo BNY Mellon, para aceitar proposta de fechamento de acordo com aquela instituição, no valor de R$ 1,2 bilhão, fato este comunicado de imediato a Previc”, diz o documento assinado por todo o conselho de administração dos Correios.

Pensionistas e aposentados do Postalis têm pago contribuição extra de 17,92% para cobrir o déficit no fundo de pensão.

Nesta quinta-feira, O GLOBO revelou que o BNY Mellon poderia se beneficiar do processo de intervenção. Como a Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) revisa valores de garantias no balanço, um dos fundos de investimentos que estão dentro do Postalis poderia ficar completamente comprometido. Se ele quebrar, as ações na Justiça contra o BNY Mellon estariam automaticamente extintas.

Não é nova a briga entre o BNY Mellon e o Postalis. O fundo de pensão já conseguiu bloquear na Justiça mais de R$ 300 milhões por causa de uma ação sobre fraudes em aplicações em títulos da Venezuela. A instituição financeira é acusada pelo Postalis de gerir de forma ruinosa o dinheiro dos aposentados dos Correios.

Segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, a diretoria – que foi eleita neste ano e foi retirada com a intervenção – preparava uma ação para entrar na Justiça americana contra o banco com um pedido de indenização de US$ 1,5 bilhão pelas perdas que o banco teria causado ao Postalis.

Essa diretoria, agora, se prepara para entrar na Justiça e reaver os cargos retirados pela Previc. Uma das justificativas é que o processo teria sido feito às pressas, numa reunião extraordinária feita por e-mail, sem o aval da procuradoria do órgão e comandada por representantes não legítimos da autarquia. Além disso, os fatos que teriam levado à intervenção seriam antigos.

BNY Mellon nega ter oferecido propina ao interventor

O interventor teria sido questionado sobre esses fatos na reunião do Conselho de Administração dos Correios. De acordo com a ata, ele preferiu não responder a essas perguntas.

“O interventor abstem-se de emitir opinião sobre as razões pelas quais a intervenção não foi determinada há mais tempo pelas autoridades competentes”, diz o documento.

Procurado pelo GLOBO, o presidente afastado do Postalis, Christian Schneider, ressaltou que uma denúncia de oferta de propina tem de ser investigada:

– Um registro de propina em ata é gravíssimo. Ele tem de apresentar os nomes dos advogados para a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) tomar providências.

Oficialmente, a Previc não comenta o assunto. No entanto, fontes da autarquia confirmam que foi feita uma denúncia ao Ministério Público Federal (MPF) e que ela está sob sigilo. A Polícia Federal também estaria investigando o caso.

Procurado pelo GLOBO, o BNY Mellon negou que os advogados tenham oferecido propina ao interventor do fundo.

“Jamais tratamos de assuntos relacionados a um potencial acordo com o interventor, tampouco o fizeram os nossos advogados. Portanto, a informação sobre a suposta oferta é absolutamente inverídica. Negamos veementemente os fatos reportados”, afirmou o BNY Mellon em nota.